Vindo do Mundo Perdido,
 Mau-Máli foi à Missão,
 por acaso ou a pedido
 ensinar sua lição,
 fazer o que em qualquer parte
 faria como artesão:
 trabalhar na sua arte
 de bonecos de latão.
Depois, ou por ter gostado
 desta ou daquela oração,
 ou por ter-se enamorado
 de algum Cristo de latão,
 fosse lá pelo que fosse,
 Mau-Máli fez-se cristão,
 dentro e fora baptizou-se,
 Mau-Máli virou João.
 E, como João, guardou
 dentro do seu coração
 não palavras que escutou
 mas toda a sua intenção.
 Pecados mortais e tudo
 ouviu com muita atenção…
 mas, guerreiro sobretudo,
 que lá matar, isso não!
 Tendo assim acontecido,
 dada e tomada a lição,
 voltou ao Mundo Perdido,
 não Mau-Máli, mas João.
 E a mulher barlaqueada
 com Mau-Máli artesão
 já com outro tinha aramada
 sua esteira de traição.
 Um timor que assim se engana
 sabe a sua obrigação,
 a que só uma catana
 pode dar satisfação.
 Uma adúltera confessa
 merece tanto perdão
 como o outro: sem cabeça,
 o seu crime pagarão.
 Mas o que Mau-Máli sabe,
 o que manda a tradição,
 é coisa que já não cabe
 na cabeça de João.
 Poderia esquecer tudo,
 Cristo, baptismo, oração,
 mas lembra-se sobretudo
 que lá matar, isso não!
 Ora já foi cumprido
 o seu tempo na Missão,
 já só no Mundo Perdido
 há bonecos de latão,
 não há lugar onde ponha
 sua vida de artesão.
 Sem lavar sua vergonha
 como há-de viver João?
 Por isso decapitou-se
 com um só golpe de mão.
 Mas… João suicidou-se?
 - Mau-Máli matou João!  |