Se fores ao mercado e vires um rapaz
 a vender montinhos de maracujás
 e os montinhos forem mais ou menos dez
 e achares que são bons, traz todos, traz
 (a três um escudo, podes trazer tudo),
 mas não os compres todos de uma vez.
Não custa nada fazer teatro
 e é importante para o rapaz:
 deves comprar primeiro quatro,
 mais tarde três e por fim outros três,
 pedindo a alguém que o faça por ti
 (é favor que qualquer pessoa faz).
 É importante par ao rapaz
 que andou três léguas até aqui
 com dez montinhos de maracujás
 e não acha bem que uma só pessoa
 os leve de repente num cabaz,
 – isso e terra, isso e sol e chuva boa,
 isso e cinco horas por estradas más
 e uma hora para apanhar maracujás.
 E depois fica no mercado, à toa?
 Sem nada p’ra vender, que é que ele faz?
 À roda, sentados, são todos iguais
 lá aos seus vizinhos, amigos e pais
 e gente assim como nós também há
 onde moram ele e o maracujá;
 a cidade, de facto, é maior mas parece
 um pouco a vila próxima que ele já conhece;
 e quanto ao mar… o Ataúro, em frente,
 é como um monte longe, quando a chuva arrasa
 tudo, tudo, e as ribeiras incham de repente.
 E que mias? Muita loja, muita casa,
 muita gente e mais jipes que cavalos.
 É, pois, importante para o rapaz
 que não lhe compres tudo de uma vez,
 deixando-o no mercado, à toa…
 Aliás,
 a luta de galos só começa às 3.  |