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Atualizado em: 16.12.2000
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Josely Vianna Baptista
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Uma notícia sobre a poeta:
  1. Biografia 
  2. Bibliografia 
  3. Entrevista concedida a Rodrigo Browne


Poesia: 

Ensaios e resenhas: 

Direto para a página de Elson Fróes 

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Rodrigo Browne
LITERATURA | A escritora e tradutora Josely Vianna Baptista inaugura o selo Edições Mirabilia
Histórias de um caramujo milenar
Parceria com o ilustrador Guilherme Zamoner resulta num dos melhores livros infanto-juvenis do ano

Uma boa novidade chega ao mercado literário infantil: a obra A Concha das Mil Coisas Maravilhosas do Velho Caramujo, que inaugura a coleção Broches de Rubi da, também recém-lançada, Edições Mirabilia (mirabilia@onda.com.br). Escrito por Josely Vianna Baptista e ilustrado por Guilherme Zamoner, o livro traz quatro histórias infanto-juvenis ("Sereias com Asas", "Um Búzio Macambúzio no Paraíso", "O Rinoceronte de Dürer" e a "História Maravilhosa do Coro de Corais") que são contadas a duas crianças por um caramujo milenar.

Com uma narrativa envolvente e ótimos desenhos, A Concha das Mil Coisas Maravilhosas... vai agradar a todos os tipos de público. A história começa quando duas crianças, Jero (filho de Josely) e Julia (filha de Zamoner), salvam um velho caramujo de uma tempestade numa praia. Eles vão para uma caverna e lá o molusco começa a contar alguma aventuras que viveu.

Josely que além de autora também acumula a função de editora, disse que a idéia de criar um caramujo falante é antiga e sua "pesquisa de campo" começou quando praticava mergulho livre ou nas longas caminhadas que fazia por praias desertas, catando conchas para observar os grafismos nelas desenhados pelos moluscos. Em entrevista ao Caderno G ela contou um pouco mais sobre esse trabalho:

Caderno G – Suas histórias evitam o maniqueísmo presente em grande parte das fábulas infantis e mostram um lado bem lúdico. Por que a escolha desse caminho?

Josely Vianna Baptista – Porque as crianças dão de dez a zero em todo adulto bom-mocinho que vem com suas lições de moral, nas quais um BEM simplório luta contra um MAL caricato, como se a realidade pudesse ser dividida desse modo, e como se isso pudesse dar algum parâmetro ético para as crianças. Depois, porque o que pensei em fazer foi tentar compartilhar com as crianças o prazer de inventar, fantasiar, contar e ouvir histórias, dar asas (ou caudas de sereia...) à imaginação, olhar as coisas de pontos de vista que não estejam "nem tanto ao mar, nem tanto a terra", derivar. Para o Caramujo o rumo é um caminho a caminhar, não existe a bipolaridade bem versus mal, certo versus errado, etc., e as contradições convivem. Lúdico: poesia como jogo de linguagem. Imaginação como manancial para se pensar ao acaso. Distração como concentração.

– Você trabalha alguma "moral" no seu livro?

– Procurei fugir do tom proverbial-panfletário que ronda o autor de livros para crianças. O próprio Caramujo, em certa passagem da "História Maravilhosa do Coro de Corais", tem uma recaída moralista quando fica cismando horas a fio, sem saber se conta ou não conta para elas as cenas escabrosas do episódio da Medusa. Talvez este seja um livro anacrônico e amoral (não imoral), pois nele as crianças são livres, mesmo da estrutura linear da narrativa. Cultivam o prazer da leitura e o desatamento da imaginação, sem culpa. Já o Velho Caramujo, apesar de sua venerável, generosa e iluminada personalidade gastrópode, incide em picuinhas, tem rompantes de impaciência e medo, ronca de noite e é romanticamente utópico, pois sonha em encontrar aquela Concha das Conchas. Ou seja, o Livro dos Livros, o Verbo Primordial, o Sentido. O Caramujo também trabalha, como eu já disse, os laços ou as brechas entre as palavras e as coisas. Nele utilizo, literalmente, provérbios, ou "sentenças morais", de modo irônico: a Caramuja Vó Augusta tem um baú feito de cascas de ostras do Mar do Norte cheio deles, e sempre gostou de ensiná-los ao Caramujo, desde que ele era bebê. Como um Caramujo prevenido vale por dois, hoje em dia o Velho tem adágios no bolso do colete de madrepérola para todas as venturas e desventuras que vive.

– A ilustração do livro é caprichadíssima. Como foi sua relação com o Guilherme Zamoner. Ele pegou as histórias prontas e desenhou sobre os temas, ou deu alguma sugestão?

– Depois que inventei o Caramujo e seu ambulante museu vivo de histórias, elegi os temas, mas fomos conversando durante toda a elaboração do livro. Já conheço há muito o desenho magnífico do Gui, que é também um excelente arquiteto, gravador e artista gráfico, mas seu talento como desenhista precede, a meu ver, todos estes outros. O que sempre me encantou no desenho dele, além da perícia técnica, foi uma espécie de "narrativa" visual muito rica, pois seus desenhos não "ilustram", no sentido usual da palavra, e sim inventam novos sentidos. O desenho dele é de uma imaginação vertiginosa, cheio de detalhes, expressivo, conta sua própria história. No caso do Caramujo, que é em si mesmo um organismo narrativo, seu desenho caiu como uma luva, pois vai gerando continuamente novos signos e sugestões. Seu trabalho pode ser comparado ao dos melhores desenhistas e ilustradores, ao dos clássicos de Maxfield Parrish, ou ao de contemporâneos como Brian Froud e Patrick Woodroffe, por exemplo; é realmente fabuloso. Para este livro ele produziu os desenhos em computador, utilizando o Photoshop e um sistema de arte eletrônico Wacom.

– Suas histórias muitas vezes são referenciadas com citações de outros livros, as "conchas soltas". É complicado "catar" as conchas certas e colocá-las durante a narrativa?

– É muito divertido. Porque tudo está interligado. O livro abre com versos da Odisséia de Homero, que traduzi e "adaptei" a partir da clássica versão de Odorico Mendes. Por quê? Porque a aventura de Ulisses é o símbolo da Viagem por excelência, e o Caramujo é um viajante inveterado. Como Marco Polo. Como Luigi Tansillo, o poeta italiano dos Seiscentos. Como Borges, com suas viagens imaginárias. Como Fernão Cardim, que visitou o Brasil no final de 1500. Aliás, todas as informações histórico-iconográficas foram cuidadosamente pesquisadas. O Caramujo valoriza as viagens de fato, a experiência, nesta época em que as crianças vivem a maior parte do tempo fechadas, diante da TV, em apartamentos ou em quintais cercados por grades. Ele valoriza o conhecimento direto do mundo, sem mediações. Nesse sentido, o Caramujo tem afinidade com o ideal romântico que valorizava as viagens como princípio de formação e de conhecimento, mas se desvia do rumo da narrativa fabular romântica (aquela que tinha "moral da história"). Retomando o que você falou acima sobre o lúdico, acho que a diferença do Caramujo está em sua cartografia: ele não tem destino certo, sua geografia é feita de muitos centros, a narrativa é um jogo, que abre mais espaço para o acaso.

– No final o Caramujo promete voltar com novas histórias. Isso vai acontecer?

– Vai. A Concha das Mil Coisas Maravilhosas do Velho Caramujo inaugurou a Coleção Broche de Rubis e é o primeiro título do selo Edições Mirabilia, que criei especialmente para este trabalho, e que tem um logotipo feito pelo Guilherme – uma caravela num mar revolto, com direito a lua, estrelas e peixe-voador. Em breve, o Gui apresentará à Lei de Incentivo à Cultura de Curitiba um projeto para o volume 2, que dever· se intitular Terra sem Mal, e no qual queremos trabalhar alguns aspectos da cosmogonia Guarani. Se tudo der certo, no ano que vem o Velho Caramujo dever· contar às crianças sua aventura na Mata Atlântica do Paraná, sua viagem com um jovem índio em busca do "Paraíso" Guarani, seu encontro sinistro com Cabeza de Vaca, com pajés e sambaquis assombrados. Naturalmente, ele vai continuar nos contando de seu percurso decifratório em busca da inabarcável Concha das Conchas.

Gazeta do Povo
14.12.2000
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