José de Paula Ramos Jr.


De Inventione

1 Fico parado, quieto. Se espero, nada vem, Ou vem (pior!) postiço, Fala falsa do que não há, Palavras ocas, palavrório. Nenhuma poesia pousa Na página atulhada de signos. E não há sintaxe que anime, Prosódia melíflua que encante, Ou truque de imagem que esconda A só carcaça de versos. O poema impostor não se impõe, perece. 2 Fico parado, quieto. Se nada espero, nada vem, Ou vem (bem!) sem querer, Não se pode evitar; Palavras aladas assumem controle E semeiam a folha muda de signos, Que dançam e cantam e rompem A espessa caligem das coisas. É quando a poesia pousa Numa flor inútil E nela deposita, como borboleta, O pólen que a fertiliza.


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