João Maimona

Juscelino Vieira Mendes - jvmendes@dglnet.com.br

Prostitutas Misérias entre Mar e Janelas

no quadragésimo aniversário da explosão de Hiroshima 1. Nascemos quase pelas horas quase iluminadas pelas cortinas que ocultam a ausência humana. E falecemos entre as sombras da presença humana. A palavra sentida há de calar a dor. Devíamos ter dito duas vezes a oração bordada - a estreita oração que nos ensinou a bíblia de pedra. Da palavra sentida há de nascer o amor. As avenidas cantam e dizem lagartos para escurecer as noites que nos vêm da madrugada. Na palavra sentida há de crescer a flor. Os leões inventam microfones que em duas línguas dizem tudo em duas palavras para os ouvidos de dois mundos que se ajoelham em dois caminhos. Temos de conhecer o mar. Temos de dançar ao pé das janelas. E crepúsculo estará na neve do crepúsculo que há de vir congregado em pedras do crepúsculo. 2. O velho continente acordou e deixou de sonhar com as estátuas de cinza. A América se levantou e se contorce de recessão espacial nos pastos que enchem os peitos do gado com o qual havemos de alimentar os silêncios da África. As Américas colecionam lembranças da escravatura. E África coleciona lábios para beijar folhas e árvores perdidas no deserto por habitar. Aqui os dias caem no chão e ninguém os quer contar. Mas de noite cantamos os dias que se abrem. Estendidos no chão. Espiados pela mão que para a noite vai. A carne, a flor, o sal, o sangue e a água se misturam para soprar felicidade ao mar e às janelas. Temos de conhecer o mar. Temos de dançar ao pé das janelas. E o crepúsculo estará na neve do crepúsculo que há de vir congregado em pedras de crepúsculo.

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