Judas Isgorogota


Os Ipês

Quando o homem, que fora um bom, fechou os olhos e a alma entregou a Deus, este, num gesto suave, a recebeu sorrindo. Ele fora na terra alguém que teve sempre aberta a mão para o infeliz necessitado, e, para o sofredor, aberto o coração... Todo o ouro que tinha, ele, piedosamente, ia dando de esmola... havia sempre mãos ressequidas, mas famélicas, nervosas, pedindo pão... Foi assim que, ao morrer, tão pobre estava que só tinha de seu, em frente à casa, uns modestos ipês, que jamais floresceram, minguados de folhagem, enterrados no chão... — Ele que foi um rico... imaginem... ao menos que deixasse com que adquirir-se agora uma mísera cova... Ouro ele teve, e muito, o maganão!... Mas, onde está seu ouro? Onde está seu ouro?... Jogou-o fora, o vilão!" Assim falavam todos — os parentes e os amigos, numa geral condenação... Eis porém, que ao passar em frente às árvores tristonhas, O desgraçado morto em seu desgraçado caixão, num milagre de amor, os ipês começaram a florir, a encher o céu de pétalas de ouro, E de ouro, ouro divino, atapetou-se o chão!


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