José Gomes Ferreira


O general
("Depois de fortemente bombardeada, a cidade X foi ocupada pelas nossas tropas.")

O general entrou na cidade ao som de cornetas e tambores ... Mas por que não há "vivas" nem flores? Onde está a multidão para o aplaudir, em filas na rua? E este silêncio Caiu de alguma cidade da Lua? Só mortos por toda a parte. Mortos nas árvores e nas telhas, nas pedras e nas grades, nos muros e nos canos ... Mortos a enfeitarem as varandas de colchas sangrentas com franjas de mãos ... Mortos nas goteiras. Mortos nas nuvens. Mortos no Sol. E prédios cobertos de mortos. E o céu forrado de pele de mortos. E o universo todo a desabar cadáveres. Mortos, mortos, mortos, mortos ... Eh! levantai-vos das sarjetas e vinde aplaudir o general que entrou agora mesmo na cidade, ao som de tambores e de cornetas! Levantai-vos! É preciso continuar a fingir vida, E, para multidão, para dar palmas, até os mortos servem, sem o peso das almas.


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