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JÚLIO Dias de QUEIROZ
Caixa postal 1240
88010-970 - Florianópolis, SC
jdequeiroz@brturbo.com

Remetente:
Osmard Andrade Faria
<oafaria@floripa.com.br>

- Biografia

- Poemas:

         

Mais poemas de Julio Queiroz







           JÚLIO Dias DE QUEIROZ nasceu na cidade de Alegre, Espírito Santo, em fevereiro de 1926 e após estudos iniciais realizados na cidade do Rio de Janeiro e Porto Alegre, diplomou-se em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica. Aperfeiçoou seus conhecimentos na Universidade de Munique, Alemanha e no Real Instituto de Administração em Londres, Inglaterra.

            Em 1949 resolve dedicar-se à vida monástica entrando no noviciado da Ordem Cisterciense do Brasil, em Itaporanga, SP.  Dedica-se à vida religiosa durante boa parte de sua vida. Mais tarde, renunciando aos votos, dá-se aos estudos de filosofia  em Bonn e Munique onde escreve tese sobre “Aspectos Estéticos da Mística Católica Medieval Alemã”.

            Volta ao Brasil. A partir de 1959   radica-se na futura capital onde presta serviços como assessor da Presidência da NOVACAP, encarregada da recepção aos convidados estrangeiros da Presidência da República. Trabalha também como diretor do Departamento de Cultura, Turismo e Recreação da Prefeitura do Distrito Federal, prestando ainda serviços como coordenador do Centro de Treinamento do Ministério da Fazenda do Rio de Janeiro. É mais tarde, assessor do governo do Estado de Santa Catarina como elaborador de textos do governador Colombo Machado Salles.  Nesses intervalos, como bolsista, cursa técnicas de treinamento e administração pública no Real Instituto de Administração Pública da Inglaterra e Fundação Alexander von Humboldt em Berlim Ocidental.

            Em Santa Catarina, torna-se colaborador efetivo durante muitos anos dos principais jornais do Estado. Seus trabalhos literários acabam por conduzi—lo à Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a cadeira número 10. É reconhecido hoje como um dos melhores contistas e poetas brasileiros. Livros de contos, entre outros, tem publicados, “UMAS PASSAGEIRAS, OUTRAS CRÔNICAS”, “ANTOLOGIA DO VARAL LITERÁRIO”, ‘CAMBADA DE MENTIROSO”, “A CIDADE AMADA”, “ESTE AMOR CATARINA”, “AS PERMUTAS E OUTROS CONTOS”. Tem uma novela, “PLACIDIN E OS MONGES. Mas o seu maior destaque é a poesia. Dentre seus melhores livros, conhecem-se “HAMLET, OS CONVIDADOS À TRAMA”, “BREVE ARO”, “INFORMES A NARCISO”,  “BAÚ DE MASCATE”,  “ENCONTROS EM TEMPO DE PESTE”,  e  “VOCABULÁRIO INICIAL DO INFANTE”.  No prelo, aguardando publicação pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina, “SEMENTES DO TEMPO”,  contendo um grupo de poemas concatenados, entre os quais, “Missa para os Tempos de Agora”, “A Dança da morte”. “Simetria Quadrada” e “Kama Sutra da Amizade”. 

            JÚLIO DE QUEIROZ vive hoje em Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, onde exerce atividade literária além de professor  de filosofia e conferencista.

            O jornalista e médico Osmard Andrade Faria selecionou, [dezembro de 1999] dentre os trabalhos de seus livros e alguns outros avulsos, a seqüência de poemas que  Jornal de Poesia inclui nesta coleção.




 
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Livro “ENCONTROS EM TEMPO DE PESTE”
 

I – LÚCIFER
 

Então, Deus, são estas tua imagem e semelhança...

Por elas varreste-me de teus céus, que minha luz esfuziava.
Por tais criaturas, arrogantes e fracas,
interrompeste o diálogo;
desdenhaste o encontro permanente,
deste-lhes o amor que era só nosso.
Como  com todas tuas outras dádivas, travestiram-no de tudo:
menos de teu amor.

Eu, Lúcifer, hei de compor um vírus, uma anti-vida
escondido no rubro que vida representa,
tão faminta da vida que criaste,
que aniquile, com insídias, a obra que amaste.

Que o amor que lhes deste seja a porta
pela qual entre minha criação, portal da morte.
Tocada por mim, tua imagem te amaldiçoará a cada instante.

É nela, ferida, que te ferirei. Porque te amo ainda.




 
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II – O VÍRUS

Que prisão é esta que cerceia a cadeia em que latejo?

Por que o frio desta caixa branca que me ronrona algemas
e amordaça o sangue do qual vivo e que domino?

Quando chegará a esta casa só de leitos
fechados em paredes, máquinas e remédios inúteis
o corpo faminto dos glóbulos onde me prendem?

Quero a extensão de suas veias; suas células hospedeiras,
de onde eu, celeremente multidão,
sairei para clarinar o julgamento da derradeira Parca,

ferindo lá onde é maior a impotência
e, vencedor, imperar no cadáver ambulante.
 
 




 
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III – AVENTUREIROS

Quando, no bar indiferente e escurecido,
a chama dos olhares os uniu;
Chartres e Moisés tremeram, amedrontados,
Enquanto Apolo, redivivo, triunfava.

Só olhares:
logo se foram juntos, rindo, noite a dentro,
para o irrefletido heroísmo da juventude compartilhada.

De um deles, no bolso, a sentença prolatada
e, no sangue ainda ardoroso, o vírus executor.




 
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IV – O CONQUISTADOR
 

Na gentil insolência do corpo jovem,
o sorriso provocante
lambeu as bordas do copo
enquanto o olhar faroleou recantos.

Forte, belo e audacioso,
mesmo assim, a candura amorosa
rasgava fendas na virilidade conquistada
em suores latejados em ginásios reflexivos.
Que recôncavos o faziam buscar
a figura envelhecida e tímida,
incapaz de heroísmos,
calculadora de riscos,
e com tão pouco tempo de viver cinzento,
ainda tão temeroso da morte?
 
 
 




 
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V – A TENTAÇÃO
 

O corpo, eucalipto jovem,
floresceu no sorriso convite
da boca fresca e carnuda.
O antigo ritual, na promessa muda,
estonteou o outro, na angústia da surpresa agradecida.

Que de horizontes! Que de mundos!
Tão jovem e já mestre nos misteriosos arcanos dos olhares.

Entre ambos levantou-se a sombra emagrecida
de um corpo, cuja pele estirada mal cobria ossos
de uma face que, Janos imprevidente, 
já olhava caminhos direcionados para a noite.

A água que lavou os olhos
desfez o milagre da sugestão. 
 
 
 




 
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VI – O ENGANO
 
 

Na exuberância do corpo jovem e generoso,
a esposa abriu-se, flor noturna, à coluna que sustentava
lar, vida e esperanças
na certeza da fertilidade desejada.

Do Apolo travestido recebeu  o vírus, feto indesejado,
Do qual nem remédios nem sofrimentos
conseguirão fazê-la abortar.
 
 
 




 
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VII – O DROGADO

Sexo? Sem qualquer importância
a não ser para se ter o fogo líquido
que explode o cérebro
em nirvanas indomados e obrigatórios.

Vida? A não ser para o pico
portador do horror sem freios e dela dominador.

Só há dois lados: o dos que passam, indiferentes ao paraíso solitário
e o outro, compartilhador da angústia
e da insolente paz suja, que tudo devasta.

Na gotícula tremeluzente na ponta da agulha,
junto com o samadi transferível,
o vírus lateja, impaciente de novos corpos
e de mais vitórias avassaladoras.
 
 




 
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 VIII – O RECÉM-NASCIDO
 

Com que estranhas poções me alimentaste.

Ainda em teu ventre, junto com a vida de teu sangue,
recebia eu, sem escolha, o fogo líquido que teu viver envenenava.
com a peçonha com que te injetavas
suprias-me com vida e morte.

Não terei tempo para aprender a chamar-te mãe,
mas já te sei sentença que tua servidão me pronunciou.

Deste-me vida já amortalhada.

Os brinquedos, os sorrisos, os afagos,
a juventude, tudo o que escolhi antes de formar-me em teu ventre,
ninho de víboras,
se esvaiu no incêndio do teu fumo, da tua seringa.

Terei, mais uma vez, que passar pelo nada escuro
para voltar ao fora do tempo e a outra permissão para viver.

Que horrores acumulamos juntos, no passado,
para que me ferisses de morte, sem me conhecer,  e,
ainda assim  carregasses minha vida em tuas veias?
  

 

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 IX – O CIENTISTA
 

Tão simples.

Inevitável solução elegante,
que, por fim, se entrega à minha insônia.

Na proveta da vida, precisou-se de tanta angústia,
tantos Lázaros ao revés, podres inda vivos;
tantos pais sem filhos, tantas tramas inúteis;
tantos segredos tecidos no tear do escuro,
escancarados ao sol  do medroso escárnio de vizinhos.
E ao dedo esbravejador de pseudo-donos de deuses.

Enfim, brilhaste na pipeta,
alquimia nova e salvadora.

Vai, agora, e liberta o amor das cadeias da morte!

Eu?  Vou dormir.
X – DEUS
 

Lúcifer, meu reflexo bem amado,
por que insistes, no tempo, em que te trancaste,
em lutar contra ti mesmo, que sou eu?

Deixa o ódio que te divide; a eternidade é uma.
Todo esse orgulho é prisão;
toda essa luz são algemas.

Não me fales de amor; ama-me apenas.

Teu vírus continuará vivo; nada morre.
Mas, domado pela inteligência do coração,
perderá sua peçonha.

Essas criaturas-promessas, que desprezas,
e que, estonteadas,
vagam, desde o primeiro vagido unicelular,
em minha direção,
obscuramente adivinham o que teu saber imenso desconhece inda:
só o amor basta. Satã, só o amor.

O banquete está pronto:
fumegam na ardência de minha essência
as delícias de nossa reconciliação.

Filho, sê pródigo.




 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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X – DEUS
 

Lúcifer, meu reflexo bem amado,
por que insistes, no tempo, em que te trancaste,
em lutar contra ti mesmo, que sou eu?

Deixa o ódio que te divide; a eternidade é uma.
Todo esse orgulho é prisão;
toda essa luz são algemas.

Não me fales de amor; ama-me apenas.

Teu vírus continuará vivo; nada morre.
Mas, domado pela inteligência do coração,
perderá sua peçonha.

Essas criaturas-promessas, que desprezas,
e que, estonteadas,
vagam, desde o primeiro vagido unicelular,
em minha direção,
obscuramente adivinham o que teu saber imenso desconhece inda:
só o amor basta. Satã, só o amor.

O banquete está pronto:
fumegam na ardência de minha essência
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