José Carlos Capinam


Narciso

Enquanto nos atormentam as furiosas serpentes da
solidão
Eu sei de ti, como nenhum menino sabe de si mesmo E te salvo da sombra de todos os teus espelhos De onde emergem intactas as imagens claras da
compaixão
E cai no fundo das águas o céu do verão Frutas vermelhas amadurecem o peco desejo Há um cardume de ânsias mergulhadas no peito Estás com ar transfigurado, a insone paixão Nunca abandona o insondável aquário E disfarças como ontem o inevitável beijo Anunciando a Narciso seu adiado naufrágio


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