Jônatas Batista


Alegria do Céu

Maio... junho... os raios do sol chegam mais livres e mais rápidos. A luz das estrelas, mais intensa e mais viva, se derrama pelas dobras da noite. A lua... Nem um trapo de nuvem, nem um farrapo de sombra! Céu descascado. Céu do Nordeste. À nossa vista sempre dá mostra "a pálida e romântica enamorada dos poetas vagabundos". Quando os ventos gerais arrancam as primeiras folhas... a gente tem gana de viver e de amar! As violas acordam e os terreiros se espanejam. O engenho de madeira canta, rouquenho, ao ritmo pesado e lerdo dos bois vagarosos e sonolentos. O caititu raspa a mandioca sumarenta e a farinha cheirosa é remexida no forno de pedra. Os riachos valentes se transformam em longas e estreitas fitas de prata. Os sambas se animam e os cantores se defrontam para o desafio costumeiro. A jurema de desata em flores e o perfume vai longe em busca das abelhas. As morenas se alindam e os namorados se comprometem. O vaqueiro abóia, ao fim do dia, na quebrada da serra, e o touro escarva o chão, desafiando no pátio da fazenda. A égua nova, que ainda não deu cria, curveteia, no tabuleiro verde, e a raposa uiva e gargalha, na encruzilhada do caminho. As ovelhas, em ranchos, se agasalham fora dos currais, e as cabras pinoteiam, ariscas, nas fraldas dos morros. O caboré geme com frio e o cabeça-vermelha acorda o galo preguiçoso, que se retarda no toque da alvorada. O inverno vai longe, A seca não chegou ainda, Ah! nesse tempo, nesse tempo, baixam aos campos da minha terra A bênção de Deus! A alegria do Céu!


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