Poesia Infantil
 
 
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  4. Usina dos Sonhos
  5.  
"Onde estão os poetas das novas Águas ?  

 Estão dentro dos abismos da Terra  
.... que os cuspirá de volta!  

Oceano, Oceano,   
ó grande rei dos sorvedouros,  
os que estão por nascer te saúdam!"  
 

    Soares Feitosa
 
Harold Bloom comenta a péssima qualidade da literatura infantil (Harry Potter et allii); fala de gênios, Alcorão, Bíblia, Pessoa, Machado, etc, etc.

 

Assunto: 
         De Luca-lucaco para o poeta Feitosa 
    Data: 
         Wed, 28 Jul 1999 11:27:15 -0300 
     De: 
         "Lucas de Souza" <lucas@tropical.com.br> 
    Para: 
         <jpoesia@secrel.com.br> 
 
[Veja a página de Lucas de Souza
 

Vitória, Espírito Santo, 28.07.99 

Caro Sr. Feitosa, (Vô-doido) 

            É com largo respeito que me ponho a lhe escrever. 
Primeiramente por muito admirar o trabalho que tens feito pela poesia e também pelo poeta vasto que és. 
            Não sei se tu lembras de mim. Sou Lucas de Souza, 16 anos, e já troquei e-mails contigo há bastante tempo. Tu me apelidaste de Luca-lucaco pois tu chamas o teu netinho assim, que retribui com o "Vodoido", lembras? Feitosa, tenho seguido teus conselhos de como ser "bom poeta" e tenho evoluído bastante. Comprei os livros que me indicaste, fiz todas as leituras, e tenho batalhado. Tudo, é claro, sem esquecer o que tu lembraste: "Primeiramente vem o colégio". As notas estão ótimas e penso em poesia nos meus momentos de lazer. Afinal, existe melhor lazer para um poeta do que criar, ou tirar do limbo, bons versos? 
            Tenho trocado correspondências com Thiago de Mello e Carlos Nejar ( Nejar está morando aqui em Vitória e já tive a oportunidade de ir visitá-lo), grandes poetas que muito têm me ensinado. 
            É com imensa alegria que venho a dizer-lhe que tenho crescido como ser humano e poeta. Muito do meu "alto vôo" (entre muitas aspas, é claro) teve grande ajuda sua. 
            Mando-lhe, aqui, alguns de meus poemas. 
            Gostaria de ouvir (ler) algo sobre eles dito por você. 

Com a larga admiração, carinho e ternura de sempre, 

            Lucas de Souza. 

            Seguem os poemas: 

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Cantando Auroras 

               (Para Thiago de Mello) 
               Lucas de Souza 

               §. 

               A manhã silenciosa 
               Vem por cima destes muros 
               Reluzindo a claridão, 
               Escrevendo em linhas largas 
               Pelos postes e varandas 
               Uma idéia preciosa, 
               Estrofe de ventanias, 
               Feita em pétalas de chão. 

               Há nos ramos da cidreira 
               Altas luzes transbordantes 
               Bendizendo as juventudes 
               E encurtando a escuridão. 
               Vêm ditando bons processos 
               No refúgio da aurora, 
               Semente de goitacazes 
               Descoberta em cada mão. 

               §. 

               Ditar-se regras, latitudes, 
               Neste pudor de alvura grande 
               É limitar a casa nobre, 
               O lar vindouro da amplidão, 
               Que já não perde a liberdade 
               Brincando o dia em seu coreto, 
               Frescor de orvalhos matutinos 
               Que nos clareia a ideação. 

               Mar que se alastra rarefeito 
               Pelos tratados militantes 
               Dos companheiros entretidos 
               No naufragar da solidão. 
               São amiúdes do labor 
               Aliviando a escura noite, 
               Findar do bom combate, 
               Para o pulsar do coração. 

               §. 

               E assim vamos aquecidos 
               No vagar da luz parida, 
               Jovem filha das estrelas 
               Que nos traz nova canção. 

               Se bem armados ou feridos, 
               Se desnudados ou vestidos, 
               O que nos dá tanta esperança 
               É o crepitar da claridão. 

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Canção da várzea 

            Lucas de Souza 
 

            Desmancho meus olhos turvos 
            No suscitar dos alvéolos 
            Embebedados das várzeas. 

            Teço nos ares mais límpidos 
            Das imutáveis miragens 
            Minha canção liberdade. 

            Venho do estreito da fonte 
            Onde ganhei dos meninos 
            Um coração de bravura. 

            Lá onde o grito é mais forte 
            Que as cordilheiras de espanto 
            Que se levantam do chão. 

            Venho cansado da lida 
            Que carreguei nos meus ombros 
            No corredor da incerteza. 

            Quem traz comigo no peito 
            Uma fogueira apagada 
            Pelo cair do sereno? 

            Vou batalhando na terra 
            As mil certezas que tenho 
            Abarrotadas no espírito. 

            Vim com a barca do rio 
            Que desce lenta mas sabe 
            O rumo desta canção. 

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Púbis versos 

                     Lucas de Souza 

Nua és como flor 
Aberta no sol 
Conduzindo a puberdade 
Destes dedos que te tocam. 

Vento de calor 
Cingindo o farol 
Das luzernas de teu ventre 
Que se chama claridade. 

Manto multicor 
Molhando o lençol 
No labor da estrela língua 
Por catar profundidade. 

Passar Bojardor 
Sem ver o arrebol 
E entreter-se nos mamilos 
Penetrando a santidade. 
 

II 

Tirar-te o Vênus, 
Dar-te outro norte 
Sem pôr na sorte 
Os cotovelos. 

Céus de brasões 
Dos grelos rubros 
Nas mordomias 
De teus cabelos. 

Confim dos remos 
Das madrugadas 
Pedindo orvalhos, 
Penetrações. 
Me são mensagens 
De rezas nobres, 
Teus mil caminhos 
Nas claridões. 
 

III 

Gramíneas de pêlos 
Forjadas no flanco 
Lambuzando o pau madeira 
No tratado de destreza. 

Taberna dos brados 
Tratantes de bocas 
Aquecidas no virar 
Carregado de clareza. 

E nos seios de horizontes 
Vão anéis e mãos molhadas 
Esquecendo o labutar 
No cheirar da flor aberta. 

São lampejos de dois montes 
Que se vão bem florescendo 
Cavalgando o próprio rio 
No fulgor da boca ao mar. 

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Cantante navegante 

                Lucas de Souza 
 

No tempo que me vou não há guarida, 
Segredo ou invenção de uma estiagem, 
Estanco o pormenor e segue a vida 
Infante latejante na paisagem. 

Primeiro fui senhor da minha lida 
Na borra em fino chão plantada a vagem, 
Catando cada caco da jazida 
Brilhante porejante na miragem. 

E enlaço a distração luzindo a noite 
Certeiro e sabedor que sem açoite 
O joio se engrandece de vantagem. 

No tempo que me vou não há vagueza, 
Só levo em minha mão basta certeza 
Cantante navegante na coragem. 

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Letargo de outono 

                        Lucas de Souza 
 

Não quero nada mais que um bom colchão, 
Penumbra, chuva fraca e sonolência. 
Leituras? Não, não, não, quero dormência 
Nos versos do meu sono em mansidão. 

Eu quero no meu quarto a solidão, 
Sem gritos, palavrões, adolescência. 
No leito quero estar na minha essência 
Coberto de açucena, escuridão. 

Se a noite despencar e o sol nascer 
Que nada me atrapalhe de viver 
Silente, brandamente, assaz seguro. 

Só venham me acordar no entardecer 
Que as luzes passarão por trás do muro. 
Dormir é claridade em meu escuro! 

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Videira 

                        Lucas de Souza 
 

O amor que surge em cada desventura 
Refaz a minha sêca em cachoeira, 
Traduz semente em pão, fogo em madeira, 
E faz reverberar tudo o que dura. 

No vale do sertão, na mata escura, 
Na fronte do Jordão, na barranqueira, 
Na clara exaltação da mãe videira 
Me estende aquele amor a mão segura. 

É um bem que me conforta e me reparte 
No beiço escultural, na madrugada, 
Luzindo paz, calor à minha amada. 

Não há nada maior, valor ou arte, 
Que possa destronar tanto tesouro. 
O amor do barro fez mulher e ouro. 

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Te chamo sombra 

                        Lucas de Souza 
 

Nas óperas teu pranto interminável 
São pássaros, florins, são solitudes. 
Tu levas, ó poeta, em amiúdes 
As notas do carvalho imensurável. 

Tuas lágrimas na face apresentável 
São sons desafinando as juventudes. 
Pudeste tu, ó espólio de virtudes, 
Viver sem mastigar fim deplorável. 

Perdeste o teu sorriso, a distração, 
A música das aves no telhado, 
E esqueces que te vê a multidão. 

Tua voz a cotovia tem lembrado 
Sem termos de resposta ou condição. 
Concernes em sentir-se arruinado? 

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Eloí Elisabet Bocheco <eloi@earth.yadata.com.br
 
Prezado SF, 

Da minha parte só tenho a lhe agradecer pela página infantil. Nossa! que 
alegria encontrar lá as poesias que tanto li com os meus alunos, nesses 
26 anos de magistério,  as de Cecília Meireles e Vinicius de Morais, 
especialmente. 

 
 
 
 
 
 
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