Fernando Pessoa
Poesias Inéditas
 
O som do relógio
 
 
O som do relógio 
Tem a alma por fora, 
Só ele é a noite 
E a noite se ignora. 

Não sei que distância 
Vai de som a som 
Peguando, no tique, 
Do taque do tom. 

Mas oiço de noite 
A sua presença 
Sem ter onde acoite 
Meu ser sem ser. 

Parece dizer 
Sempre a mesma coisa 
Como o que se senta 
E se não repousa.  
 

 
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