Fernando Pessoa
Poesias Inéditas
 
Vou com um passo como de ir parar
 
 
Vou com um passo como de ir parar 
Pela rua vazia 
Nem sinto como um mal ou mal-'star 
A vaga chuva fria...

Vou pela noite da indistinta rua 
Alheio a andar e a ser 
E a chuva leve em minha face nua 
Orvalha de esquecer ... 

Sim, tudo esqueço.Pela noite sou 
Noite também 
E vagaroso eu                    ...] vou, 
Fantasma de magia. 

No vácuo que se forma de eu ser eu 
E da noite ser triste 
Meu ser existe sem que seja meu 
E anônimo persiste ... 

Qual é o instinto que fica esquecido 
Entre o passeio e a rua? 
Vou sob a chuva, amargo e diluído 
E tenho a face nua. 
 

 
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