Heleno Godoy 

Ubirajara Galli
 
acredita-se poeta, o que o torna
insano na procura de transfor-
mar coisas, como maçã ou bigor-
na, das palavras que são em algu-
ma outra coisa a mais que o silêncio
a descer sobre elas, o caminho
a ser percorrido entre o delírio
e a delícia, o sublime e o além,
o fracasso, a dor e o desdém, se
elas, as palavras, não puderem
ser seladas em cetim ou em luar,
transformadas em adagas ou setas,
transfiguradas em sonho, manus-
critas, impressas. Se é assim que 
ele é insano, pode-se acreditar
poeta, tal baleia do mar que aparece
na praia e, distanciada de seu bando,

começa a morrer sozinha, íntima de si
mesma e, mesmo se observada, quando
luta pelo que não sabe o que seja,
encontra a sua bigorna e a sua maçã,
e as vai deixando escritas na pró-
pria pele que morre. Ubirajara
Galli, assim insano, deve ser poeta.

 
 
[ Poema extraído do livro Trímeros - Goiânia, 1993 ]
       

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  02 de dezembro de 1997