Hermilo Borba Filho

Revolta na Zona da Mata

Bicho ardente, verde claro verde-escuro, amarelado, no pasto da esperança voam as crinas dos cavalos. São animais, são guerreiros, procurando a madrugada e nela se ajeitando com peixes, antas, serpentes, passarinhos, pirilampos, roedores, bestas de carne na revolução da vida dando exemplo ao bicho-homem. No pendão da cana escura corre o suor da agonia, no eito da enxada aguda cava, cava a própria dor. E o céu sangrento, mudo, recobre a pastagem gorda que dará ao senhor dela carros, perfumes e sedas, enquanto na choça escura chupando o peito resseco o homem, criança hoje, toma lições de animais para como cobra irada ou gavião bicador arrancar do coração o brado-revolta pura do final da servidão.

Recife, 30 de agosto de 1967

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