Henrique Castriciano

Beijos
 
 
As vezes, penso comigo 
Que há beijos de toda  cor; 
Beijos que trazem consigo 
Mil prisma, como o amor. 

Assim, o beijo de Judas 
Tem a cor da escuridão: 
Guarda o horror das trevas mudas 
E a negrura do carvão. 

É negro, bem como a sombra 
É traiçoeira na alfombra. 

Parte um noivo, que enlouquece 
Beijando a noiva, com pejo ... 
Não sei porque, mas parece 
Que é tão azul este beijo ! 

É azul porque a saudade 
Tem a cor da imensidade ! 

Na liça, o guerreiro bravo 
Vê cair o irmão exangue:   
Beija-o e foge, que é escravo ... 
Mas leva nos lábios sangue ...  

Dado embora de joelho, 
Aquele beijo é vermelho. 

Quando afago a minha filha 
E cinjo-a de encontro aos flancos, 
Seu rosto como que brilha ... 
Os beijos de mãe são brancos. 

São brancos, bem como a lua 
É alva, quando flutua ...

 
 
Remetente: Walter Cid

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Página atualizada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  28  de  Julho  de  1998