| Como é mimosa ! Batizou-se agora ... Porém da igreja, veio tão zangada !
 Velha criança, o padre quase chora:
 Que raiva teve da pequena aurora
 Aquela noite quase terminada !
 O calendário em casa procurou-se, 
Havendo logo imensa balbúrdia:
 — Júlia ! que nome tão formoso e doce !
 — Mas eu queria que o seu nome fosse ...
 — Há de chamar-se, quero eu, Maria ...
 Porém o espinho da discórdia irada 
Uma velhinha, carinhosa, arranca:
 Diz a vovó, chegando-se, alquebrada,
 Saboreando, em gozo, uma pitada:
 “ Achava bom que se chamasse Branca ”
 
 E teve um riso, uma carícia teve, 
Branca, mais branca do que o nome branco ...
 Tal como, outrora, a sua mão susteve.
 O meu corpinho alvinitente e leve,
 Foi a netinha conchegando ao flanco ...
 Sentiu-se alegre, qual do céu viesse ... 
Beijou-lhe os olhos de luar diluído ...
 Palmeira antiga, transformada em prece !
 Toda de branco, como se tivesse
 Rosas nascendo no seu seio ungido ...
 Seguimos todos para a igreja, rindo, 
Seguimos todos para a Igreja, então:
 Festivo, o bronze, num anseio infindo,
 Salmos cantava, deslumbrante, lindo,
 E palpitava como um coração !
 O que dirá o solitário sino ? 
— As andorinhas negras perguntavam,
 Afadigadas, sob o céu divino —
 Vem batizar-se algum irmão menino?
 E mil perguntas destas se cruzavam.
 
 Depois, ouvindo o desolado choro, 
De minha Branca, tão franzina e pobre,
 Compadecidas d’este anjinho louro,
 O altar cercaram, em piedoso coro,
 Como o incenso que o sacrário cobre ...
 Asas morenas, pelo sol tostadas, 
Flocos de espuma, de cinzenta cor,
 Flores da terra para o céu aladas,
 As andorinhas sobem, dispersadas,
 Mas descem presas pela mesma dor.
 Como eu vos quero, ó pássaros suaves ! 
Como vos amo ! Neste coruchéu,
 Nestas antigas e tristonhas naves,
 Vós sois crianças transformadas n’aves,
 Vós sois crianças que subis ao céu !
 Quando da espera nas douradas gazas, 
Passais, em busca de ideais tesouros,
 Dizem as nuvens, sob um sol de brasas:
 São almas, ternas, que sustêm nas asas
 As almas louras dos meninos louros!
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