Carlos Gondim

Maria

No Calvário, Jesus expira. A turbamulta Desvaira. No estertor, Cristo ainda mais padece Ante o néscio bramir da multidão, que o insulta, E o seu magoado olhar, raso d'água, amortece. Cai a sombra, e o terror gera na plebe inculta, Que, agora, o árido cerro em muda fila desce. Trágica, a mais e mais, a sombra cresce e avulta, Soluça em derredor uma dorida prece, Desgrenhada, vencendo o monte, na vertigem Do ascenso, a horrenda cruz finalmente atingia Aquela que a Jesus gerou no ventre virgem. Chega, tomba e desmaia... E, de repente, pelas Alturas, o ermo céu chora a dor de Maria, Com as lágrimas de luz de todas estrelas! (Poemas do cárcere, 1923)


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