Sebastião da Gama


Toada do Ladrão

A mim não me roubaram Porque eu nada tinha. Mas roubaram tudo À minha vizinha. Vejam os senhores: Roubaram-lhe a ela A filha mais grácil, A filha mais bela. Nem na sua casa, Nem na freguesia, Sequer no concelho, Melhor não havia. Prendada, bonita... E depois... uns modos De matar a gente, De prender a todos. Dizia a vizinha Que era o seu tesoiro; Que valia mais Que a prata e que o oiro. Que a não trocaria Por coisa nenhuma; Que filhas assim Só havia uma. Pois hoje um ladrão Que há muito a mirava Entrava-lhe em casa Para sempre a levava. É a minha vizinha Dona de solares E de longas terras Com rios e pomares. E de jóias raras Que ninguém mais tinha, Ei-la num instante Pobrinha... pobrinha... (Tem pomares ainda, Tem jóias, tem oiro... Mas de que lhe servem Sem o seu tesoiro?) - Vizinha e senhora, Não me queira mal! Se há ladrões felizes Sou o mais feliz Que há em Portugal.


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