Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

Juvenal Galeno


 

O poeta, a casa e seus amigos
 

Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil

29.03.2005

 

Dizem que brasileiro não tem apreço por sua história, esquece seus talentos, destrói suas construções arquitetônicas significativas. Na contramão, grupos se reúnem para preservar idéias, resgatar a obra de artistas do passado e incentivar novos nomes. O poeta cearense Juvenal Galeno, por exemplo, permanece presente na memória dos seus conterrâneos através de sua Casa. Hoje, nasce mais uma força a favor do poeta, a Sociedade dos Amigos da Casa Juvenal Galeno, Sajuga. O evento de instalação da entidade, que tem início às 19h30min, acontece na General Sampaio, 1128, Centro, na Casa Juvenal Galeno
 

Com mais de 85 anos de idade, a Casa Juvenal Galeno (CJG), além de reverenciar o poeta, é um centro cultural, no qual convergem diversas entidade ligadas às letras. Um exemplo é Ala Feminina Juvenal Galeno, presidida por Matusahila de Sousa Santiago, agora, também à frente da Sajuga.

A curadora da Sociedade é a desembargadora Gizela Nunes da Costa. O presidente de honra é o neto de Juvenal Galeno - guardião da memória do avô -, o escritor Alberto Santiago Galeno. Outras importantes entidades foram geradas na Casa, como a Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará, a Academia de Letras e Artes do Estado do Ceará e a Cooperativa Cultura do Ceará.

A União Brasileira de Trovadores (UBT – Ceará) tem na CJG um local de acolhida, entre outras tantas entidades. A idéia é que a Casa sempre seja presidida por um dos descendentes do poeta Juvenal Galeno

Antes localizada em área residencial, a CJG, hoje, está sufocada pelo comércio, que domina o Centro de Fortaleza. O poeta José Luís Lira deu voz à Casa e escreveu, no livreto “Saudação à Casa Juvenal Galeno, em seus 85 anos de fundação”, em setembro do ano passado: “há tempos, muitos anos atrás, a rua General Sampaio se chamava a rua da Cadeia, porque lá no início, próximo à Estação de Trem, estava situada a Cadeia Pública. Esta região era a mais procurada para moradia. Constituía-se a
área nobre da pronvinciana capital do Ceará”.

A Casa abrigou a família Galeno desde 1887, sendo palco de saraus e encontros literários, passando por lá importantes nomes da literatura cearense. As animadas noites da casa eram prestigiados por escritores famosos como Leonardo Mota, Quintino Cunha, Jader de Carvalho, Patativa do Assaré, Rachel de Queiroz, Fernandes Távora, Raimundo Girão, Moreira Campos, Mozart Soriano Albuquerque entre tantos outros.

O poeta popular cearense viu crescer nesta mesma casa seus sete filhos e morreu cego, devido ao glaucoma, aos 95 anos, em 1931. Foi a filha do poeta, Henriqueta Galeno, quem fundou o Salão Juvenal Galeno, para trazer, então pelo menos pela audição, já que o poeta havia ficado cego, os prazeres da de poesia. Daí o centro cultural foi criado, permanecendo até hoje, com algumas dificuldades financeiras e muita força de vontade dos descendentes de Galeno e agregados da Casa. Voltando a José Lira, que falou em nome da Casa, no ano passado: “hoje, apesar da cidade ter ganhado novos espaços culturais, ainda me considero palco de reuniões de trovadores, cordelistas e poetas, que utilizam meus salões, graças à persistência dos Galenos, pois quando o poeta morreu, ficou Henriqueta, quando esta se foi, veio Nenzinha, que me dirigiu de 1964 até 1989 quando também ela partiu e, minhas estruturas se abalaram qunado um senhor adentrou-me. (...) Alberto Galeno, o conservador da cultura popular, também o neto que mais parece com o poeta”.

Agora, com a Sajuga, a idéia é “soerguer a Casa”, afirmou a presidente da Sociedade, Matusahila Santiago. Os tempos áureos da Casa, como local de convergência de poetas cearense e de outros locais que por aqui passavam, data das décadas de 30 e 40. Filgueiras Lima costumava chamar a Casa Juvenal Galeno de “a sala de visitas da intelectualidade cearense”.

A casa, hoje vinculada à Secretaria de Cultura do Estado (Secult), possui dez cômodos, sendo ornada por estátuas vindas da Europa. Tem um valioso acervo bibliográfico, doado por Mozart Soriano Albuquerque, e a biblioteca do próprio Juvenal Galeno; dois auditórios, o principal, chamado Juvenal Galeno, que tem capacidade para 120 pessoas, e o outro, Nenzinha Galeno, ao ar livre.

Matusahila Santiago fala com orgulho da entidade que participa: “a Ala Feminina foi a primeira entidade que levou a mulher do particular ao público, através da caneta”. A instituição foi fundada, por Henriqueta Galeno, em 1936, quebrando velhos preconceitos e abrindo novos horizontes para as mulheres. O encanto de Matusahila pela Casa Juvenal Galeno começou ainda em sua adolescência, quando lia as poesias publicadas no extinto jornal Unitário. A importância que dava ao centro cultural era tanta que não tinha coragem de adentrar a CJG. “A casa, para mim, era um verdadeiro bicho-papão. Era um lugar de pessoas importantíssimas”, disse a atual presidente da Ala Feminina.

Quando se casou foi morar no Rio de Janeiro. Lá participou, entre outros, do curso de Oratória e Desinibição, pela Academia Brasileira de Oratória. “Meu objetivo era ter coragem de me apresentar à Casa Juvenal galeno”. Voltando ao Ceará, com seus vinte e poucos anos, Matusahila Santiago atravessou o corredor da CJG e, desde então, passou a ser membro da Ala Feminina, estando agora em sua quinta gestão como presidente. Os encontros da Ala acontecem todas os segundos domingos do mês.

Juvenal Galeno nasceu em Fortaleza no dia 27 de setembro de 1836. Os primeiros estudos foram feitos em Pacatuba e Aracati, e formou-se em Humanidades, no Liceu do Ceará. O poeta foi estudar no Rio de Janeiro, de onde voltou já com seu primeiro livro de poemas impresso, “Prelúdios Poéticos”, de 1856. Este é típico do Romantismo, mas a sua obra é marcada pelos poemas de sabor popular. Juvenal Galeno foi um poeta popular, sempre atento aos costumes do seu povo. Seguiram-se “A Machadada” (1860), “Porangaba” (1861), “Lendas e Canções Populares” (1865), “Canções de Escola” (1871), “Lira Cearense” (1872) e “Folhetins de Silvanus” (1891), entre outros. Além de poeta, Galeno foi Deputado Estadual, membro-fundador do Instituto Histórico do Ceará e Diretor da Biblioteca Pública de Fortaleza, entre 1889 e 1906. Um homem que merece não ser esquecido. A Sociedade dos Amigos da Casa Juvenal Galeno tem uma grande missão: que voltem os tempos áureos da Casa.


SERVIÇO: Instalação da Sociedade dos Amigos da Casa Juvenal Galeno, Sajuga, hoje, às 19h30min, no Salão Nobre da Casa Juvenal Galeno (General Sampaio, 1128, Centro). Mais informações: 3231.1448.

 

 

 

 

 

20.03.2006