Jornal de Poesia, editor Soares Feitosa

Ricardo Alfaya

Sent: Monday, October 16, 2005 10:51 AM
Subject: Ma fi Alah!

 

Caro Soares,

Valeu pela inclusão de meu comentário na "lição deRicardo Alfaya centauromaquia". Sobre o outro texto, relativo ao poema de Tufic, gostei do poema, que, no contexto geral, lembrou-me a tentadora hipótese de que Deus poderia ser mulher.  Aliás,
seria muito mais fácil amá-lo se assim fosse.

Todavia, nada mais inusitado do que imaginar que a existência ou não de Deus pudesse ser determinada a partir dos oscilantes caprichos de uma borracha, nas mãos de um indeciso poeta/profeta ou vice-versa.

Parabéns a ambos pelos belos escritos.

Abcs,

Ricardo Alfaya

 

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Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 
 

 

 

 

 

 

 

 
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Antônio Palmeira

Sent: Monday, October 16, 2005 11:57 AM
Subject: Ma fi Alah!

 

Caro Poeta,

Tenho que ser, devido à profissão de engenheiro calculista, um matemático por excelência e, com o raciocínio matemático posso te dizer que a existência de Deus é como um ponto impróprio: Na geometria é onde encontram-se as famosas paralelas, ou onde a assímptota zera. Mas na vida (essa mesma onde fomos lançados) pode ser uma simples anotação em um velho livro e com significado alternado, de acordo com o estado de espírito de quem escreve, e isso corresponde também a um ponto impróprio. É só analisar os dois "pontos" que chegaremos a tal impropriedade.

Mas vamos deixar esse assunto complexo e dar uma volta à cavalo ou mesmo à camundongo ("mouse", como querem os gringos), e quem sabe a gente encontra alguma propriedade desse ponto impróprio, perdida entre as linhas dos poemas ou entre as moitas das margens das estradas.

Estou te devendo uns materiais para a page mas o tempo tá curtinho...

 Vai um abraço no envelope,

 Palmeira

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Luiz Paulo Santana

Sent: Monday, October 16, 2005 11:57 AM
Subject: Ma fi Alah!
 

Poeta,

Sobre a lição de centauromaquia mandei-lhe um comentário que você já incluiu. Esqueci-me de comentar osLuiz Paulo Santana quadros: o de Blake, como sempre impressionante, vitorioso, utópico, e o de Victor M. Vasnesov, este último evocando, a mim me parece, o "Ser ou não ser..." de Shakespeare, ou, o homem diante de sua morte. E se Hamlet encarna o poder e a dúvida diante do nada, numa perspectiva de fuga, o cavaleiro armado e seu belo cavalo de batalha decaem impotentes diante das caveiras e lápides, numa perspectiva de fim.

Foi um prazer ler Ma fi Alah!: o velho tio do poeta Tufic, afinal de contas, com um simples "Ma", transgrediu o óbvio, ele que tanto pensava (lembrando Lya Luft) sob o seu secreto e particular modo de revolver dúvidas, ou dúvida, mais especificamente, pois acabou por lançá-la tanto nas hostes familiares como entre os convivas da famosa biblioteca, Tufic sobrinho incluso. De propósito? Ou não deu tempo? Lembra Saramago em seu "História do Cerco de Lisboa", quando o revisor acrescenta um "não" a uma única frase e muda toda a história. Ficção ou história? História ou ficção? 

Que diria de Jorge Tufic? Primeiro, uma figura muito simpática, algo ancestral — babilônio e sutil, conforme o soneto? Segundo, basta-me citar fragmentos do parágrafo final da carta que lhe enviou o poeta, agradecendo o recebimento de "Réquiem em Sol da Tarde", sobre versos de "Femina" ("Não lavei as mãos/pois tinham os sons/do teu corpo"): ... simples relâmpago de azulados e carnais reflexos, nos confins desta tarde e deste sol que nos banha, redime e fortifica. Aqui ambos têm meus olhos, meus ouvidos e minha alma. 

Forte abraço,

LPSantana

BH/MG

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Abílio Terra Júnior

Sent: Sunday, October 23, 2005 5:05 PM
Subject: Ma fi Alah!

 

 

Ma fi Alah!

Estimado Poeta Soares Feitosa,

a começar do belo poema de Jorge Tufic, que nos lembraAbílio Terra Junior tempos e arquétipos ancestrais, quando a deusa Vênus reinava absoluta sobre céus e terras e espargia seu amor sobre pobres mortais, e, assim, dava seu exemplo e permitia a estes uma sexualidade plena e liberada de preconceitos, traumas e complexos, que só viriam a surgir quando os Sínodos, Bulas e Dogmas proclamados pelo corpo temporal, rico e opulento da Igreja, entraram em vigor, nos impondo um inexorável sentimento de culpa, o seu vibrante e envolvente texto vai muito além.

Ele toca naquela pergunta que, volta e meia, nos atinge e aflige, a nós, mortais, cujo precário estado é o de um imanente conflito: Deus existe?

Ora, “tio José”, o velho Youssef, se permitiu, durante sua longa e lúcida existência, uma dialética e filosófica perquirição íntima (isto, de acordo com os dons dedutivos do Profeta, dito Camundo), só acessível aos mais nobres espíritos, e que o conduziu, sem dúvida, aos generosos e amplos braços de Abraão.

Esta vital e longeva tese/antítese se exprimia em “Ma fi Alah”, Deus não existe e “Fi Alah”, Deus existe, ao passe e repasse de lápis e borracha, levando-o, no momento da Grande Iniciação, a uma gloriosa síntese.

 A luz e as trevas nos acompanham sempre, nobre Poeta, e oxalá possamos alcançar, ao fim da nossa constante lida, à conquista do velho Youssef, ou à de Victor Hugo, cujas últimas palavras foram:

— Eu vejo a luz negra!

Um grande abraço,

Abilio Terra Junior 

 

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