| [...] AH, MAS DA VOZ exânime pranteia
 O coração aflito respondendo:
 "Se é falsa a idéia, quem me deu a idéia?
 Se não há nem bondade nem justiça
 Por que é que anseia o coração na liça
 Os seus inúteis mitos defendendo?
 Se é falso crer num deus ou num destino  
Que saiba o que é o coração humano,
 Por que há o humano coração e o tino
 Que tem do bem e o mal?  Ah, se é insano
 Querer justiça, por que na justiça
 Querer o bem, para que o bem querer?
 Que maldade, que [...], que injustiça
 Nos fez pra crer, se não devemos crer?
 
 Se o dúbio e incerto mundo,  
Se a vida transitória
 Têm noutra parte o íntimo e profundo
 Sentido, e o quadro último da história,
 Por que há um mundo transitório e incerto
 Onde ando por incerteza e transição,
 Hoje um mal, uma dor, e [...], aberto
 Um só dorido coração?"
 [...] 
Assim, na noite abstrata da Razão,
 Inutilmente, majestosamente,
 Dialoga consigo o coração,
 Fala alto a si mesma a mente;
 E não há paz nem conclusão,
 Tudo é como se fora inexistente.
 
 
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