Fernando Pessoa

Hoje, neste ócio incerto
 
HOJE, NESTE ócio incerto
Sem prazer nem razão ,
Como a um túmulo aberto
Fecho meu coração.

Na inútil consciência
De ser inútil tudo,
Fecho-o, contra a violência
Do mundo duro e rudo.

Mas que mal sofre um morto?
Contra que defendê-lo?
Fecho-o, em fechá-lo absorto,
E sem querer sabê-lo.

   
Remetente : Ângela Campanha
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