Fernando Pessoa

Ela ia, tranqüila pastorinha
 
Ela ia, tranqüila pastorinha,
Pela estrada da minha imperfeição.
Segui-a, como um gesto de perdão,
O seu rebanho, a saudade minha...

"Em longes terras hás de ser rainha
Um dia lhe disseram, mas em vão...
Seu vulto perde-se na escuridão...
Só sua sombra ante meus pés caminha...

Deus te dê lírios em vez desta hora,
E em terras longe do que eu hoje sinto
Serás,  rainha não, mas só pastora  _

Só sempre a mesma pastorinha a ir, 
E eu serei teu regresso, esse indistinto
Abismo entre o meu sonho e o meu porvir...

   
 Remetente : Arcileia

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