| Deixo ao cego e ao surdo A alma com fronteiras,
 Que eu quero sentir tudo
 De todas as maneiras.
 Do alto de ter consciência 
Contemplo a terra e o
céu,
 Olho-os com inocência
:
 Nada que vejo é
meu.
 Mas vejo tão atento 
Tão neles me disperso
 Que cada pensamento
 Me torna já diverso.
 E como são estilhaços 
Do ser, as coisas dispersas
 Quebro a alma em pedaços
 E em pessoas diversas.
 E se a própria
alma vejo 
Com outro olhar,
 Pergunto se há
ensejo
 De por isto a julgar.
 Ah. tanto como a terra 
E o mar e o vasto céu,
 Quem se crê próprio
erra,
 Sou vário e não
sou meu.
 Se as coisas são
estilhaços 
Do saber do universo,
 Seja eu os meus pedaços,
 Impreciso e diverso.
 Se quanto sinto é
alheio 
E de mim sou ausente,
 Como é que a alma
veio
 A acabar-se em ente ?
 Assim eu me acomodo 
Com o que Deus criou,
 Deus tem diverso modo
 Diversos modos sou.
 Assim a Deus imito, 
Que quando fez o que
é
 Tirou-lhe o infinito
 E a unidade até.
 
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