Fernando Pessoa

Sonhei, confuso, e o sono foi disperso
 
     Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
     Mas, quando dispertei da confusão,
     Vi que esta vida aqui e este universo
     Não são mais claros do que os sonhos são 

     Obscura luz paira onde estou converso
     A esta realidade da ilusão
     Se fecho os olhos, sou de novo imerso
     Naquelas sombras que há na escuridão. 

     Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
     É a mesma mistura de entre-seres
     Ou na noite, ou ao dia transferida. 

     Nada é real, nada em seus vãos moveres
     Pertence a uma forma definida,
     Rastro visto de coisa só ouvida. 

          Fernando Pessoa, 28-9-1933. 
 
 
 

 
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