| Fernando Pessoa Depois que o som da terra, que é
não tê-lo
 
Remetente : Arcileia
| Depois que o som da terra, que é não tê-lo, Passou, nuvem obscura, sobre o vale
 E uma brisa afastando meu cabelo
 Me diz que fale, ou me diz que cale,
 A nova claridade veio, e o sol
 Depois, ele mesmo , e tudo era verdade,
 Mas quem me deu sentir e a sua prole?
 Quem me vendeu nas hastas da vontade?
 Nada. Uma nova obliquação da luz,
 Interregno factício onde a erva esfria.
 E o pensamento inútil se conduz
 Até saber que nada vale ou pesa.
 E não sei se isto me ensimesma ou alheia,
 Nem sei se é alegria ou se é tristeza.
 
 |  
 
 |