Fernando Pessoa
Cancioneiro


Boiam leves, desatentos

Boiam leves, desatentos Meus pensamentos de magoa, como no sono dos ventos, As algas, cabelos lentos Do corpo morto das aguas. Boiam como folhas mortas, 'A tona de aguas paradas. São coisas vestindo nadas, Pós remoinhando nas portas Das casas abandonadas. Sono de ser, sem remadio, vestigio do que não foi, Leve mágoa, breve tédio, Não sei se para, se flui; Não sei se existe ou se dói.


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