Ricardo Reis
Saudoso
 
Saudoso já deste verão que veio, 
Lágrimas para as flores dele emprego 
Na lembrança invertida 
De quando hei de perdê-las. 
Transpostos os portais irreparáveis 
De cada ano, me antecipo a sombra 
Em que hei de errar, sem flores, 
No abismo rumoroso. 
E colho a rosa porque a sorte manda. 
Marcenda, guardo-a; murche-se comigo 
Antes que com a curva 
Diurna da ampla terra. 
 
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