Alberto Caeiro
 
XXIII - O meu Olhar
 
 
     O meu olhar azul como o céu 
     É calmo como a água ao sol. 
     É assim, azul e calmo,
     Porque não interroga nem se espanta ...

     Se eu interrogasse e me espantasse
     Não nasciam flores novas nos prados
     Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo... 
     (Mesmo se nascessem flores novas no prado
     E se o sol mudasse para mais belo, 
     Eu sentiria menos flores no prado 
     E achava mais feio o sol ...
     Porque tudo é como é e assim é que é, 
     E eu aceito, e nem agradeço,
     Para não parecer que penso nisso...)

 
 
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