Alberto Caeiro
 
XVI - Quem me Dera
 
 
     Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
     Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
     E que para de onde veio volta depois
     Quase à noitinha pela mesma estrada.

     Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas ...
     A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
     Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
     E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

 
 
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