Francisco Nóbrega
Ode ao Aleijadinho
					Na sorte amarga que curtiste outrora, 
					pisando a dor a todo momento, 
					a mim restou de tua memória
					uma grandeza imensa ante o sofrimento.
					Quisera a vida retornasse seus passos, 
					e que pudéssemos refazer a história;
					arrastaria de ti esta cruz pesada, 
					e só tua obra restaria em glória.
					Poeta foste de cinzel em riste, 
					tuas imagens são épicos, em nós, gravadas, 
					e tua famosa arte, em si embala, 
					comove o alegre e enleva o triste.
					O amor acendrado à tua arte, 
					manteve vida no teu corpo decomposto;
					não te deteve a sombra de atroz morte, 
					nem o sofrimento a que te viste exposto.
					No adro da igreja de Matosinhos
					deixaste impresso em divino bailado, 
					nas pedras que dançam e tangem
					os profetas, de luz e beleza inebriados.
					Na via-sacra tua e do divino
					mestre em cedro reveladas, 
					mais nos consterna o coração
					as duas dores tão identificadas.
					Expressão maior da raça brasileira,
					em ti colheste nossas sagradas auras;
					num meio hostil foste a bandeira
					de uma belíssima e radiosa causa.
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