Fernando José dos Santos Oliveira

Fernando Oliveira - malba@tba.com.br

Pensa

Pensa Que sua Presença - Intensa, Imensa - Não me é Recompensa De sua InsensaTEZ ?! Pensa Que seu corpo ainda É virgem de mim Só porque não o toquei ?! Atirei-a, vezes muitas, Ao sofá, ou à cama, ou ao chão. Rasguei sua roupa, Com fúria adolescida. E a amei, Com calma maturada. Com a língua escrevi poemas Em seu corpo-papel-em-branco. Persegui fugidias gotas de suor E as sorvi, no alcançá-las, Para repor a umidade perdida Na aspereza repentina de sua pele arrepiada, Na relva macia de seus pêlos sobreviventes. Quando não, soprava-as - esfriando-as. Percorri todos os seus caminhos: Queria sentir-lhes a textura, o cheiro, o gosto; Usei as mãos (quase flutuando), A ponta do nariz (quase raspando), A boca (quase beijando). Segurei-a para que não me tocasse: meu prazer vinha do dar. Formei pequenos seios com sua pele entre meus dentes, - E a devolvia, levemente marcada; Aspirei-a, aos pedaços, para dentro de minha boca, - E os devolvia, levemente avermelhados. Vi o cerrar de seus olhos, A procura frenética de sua língua: Chicoteando o ar, umedecendo os lábios. Egoísta, não deixei que (só) ELE a invadisse: Escorri-me, todo, para dentro, vestindo-o. Ergui-me, meio corpo, nos braços E levantei a cabeça, estiquei o pescoço, Para escorrer mais. Consegui: nos tornamos um só Nesta viagem úmida, quente, confortável De idas e vindas. Não a larguei Até ouvir o meu prazer de sua boca: Num grito, num choro, num gemido - Vindos de um calor, Um tremor, Um explodir contraído, Um suspirar profundo, ofegante - quase arfar. Vindo de uma vontade de nada mais ser. Talvez, até, de morrer, Eis que nada mais importa (nem mesmo se alguém lembrou de fechar a porta). Acordei. Foi um sonho. Acordei?! Foi um sonho?!


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