Antero Barbosa |
From:
barbant@iol.pt
Sent: Sun, 06 Nov 2005 18:26:39 +0000 (GMT)
“Uma pequena/grande lição de cavalaria”
Há o cavalo na terra, no campo de terra. Construído de músculo e carne e pêlo e formas. Pastando a erva. Ou nos caminhos, ou na serra, galgando, vestido de apetrechos: o cabresto, a cela, a espora. Das lendas mitológicas, que engendraram Pégaso, cavalo com asas, filho de Poseidon e de Medusa, capturado por Belerofonte, já pouco resta: porque, quando o herói tentou montar o cavalo de novo, ele corcoveou, atirou Belerofonte longe e subiu para os céus. Portanto, de toda essa lendária teia tecida e desdobrada, hoje apenas podemos vislumbrar uma simples constelação. O cavalo no campo da terra e o cavalo no campo do céu. Mas há um outro, formidável, no campo literário. De facto, quando Ramos Rosa, no livro a que chama “Ciclo do Cavalo”, dedica todos os poemas do volume a este animal, não é ao animal, do campo ou do céu, que liminarmente se refere. É um outro cavalo, limado, interiorizado, possuído e trabalhado pelo senso do homem, é a sua sombra e o seu fluido que se destilam na página depois de filtrado pela mente no decorrer de muitos séculos. É também o que acontece em “Uma pequena lição de cavalaria”. Onde a palavra escrita se deixa cavalgar por essa imagem vital. Procurando mais que a desenvoltura a síntese. Do cavalo, de todos os cavalos, de suas exponenciais biografias. E o faz, designadamente, de três formas. Diluindo o cavalo no homem e vice-versa, aplaudindo a fórmula do centauro. Onde um ser de dois sublima a força da metamorfose. Porque nesse ser novo se conjugam duas forças, a animal e a humana, e se renegam os defeitos. O animal perde receios e o homem torna-se veloz. Apelando ao ponto intermédio da pintura. Com efeitos sobrenaturais. O cavalo, montado, assombra por mar e ares. Subsistindo em nosso olhar uma imagem de poder absoluto: ele é apenas a seda da pelagem, a audácia da fronte, o soerguer de patas e caudas, o domínio do tronco. Tudo o mais desaparece: não tem vísceras, nem órgãos, nem sangues ou suores, nem carece de comer mais forragem ou água beber. Mas é sobretudo na transmutação para a escrita que o portento se produz. Porque essa é a dificuldade aqui superada. Com letras e signos e fonemas, pôr o cavalo de pé na página, colocá-lo íntegro e inteiro, fazê-lo respirar e viver. E possibilitando a quem lê fazer coincidir o reflexo de seus cavalos com os cavalos do texto. Antero Barbosa |
Bernadette Lyra |
Caríssimo SF, estou aqui, aqui, na beira do mar capixaba, onde li a lição de cavalaria. Vim em busca de refresco, saindo do sufoco de cimento e metal de São Paulo. Olha, desde uma pequena frase de Vladimir Vladimirovich Nabokov sobre o senso dos cavalos, nada no assunto me tocou tanto. Aí incluída a ternura que sinto pelo Rocinante. Pensei: oh, céus! quem é esse senhor Soares Feitosa escondido nos confins do mapa? Será que ele existe mesmo, em carne, unha e osso? Será uma miragem que o sol do Ceará faz nas areias movediças da net? Será um desses profetas metido em sua gruta, da qual sai de vez em quando para alumiar os viventes com a candeia da poesia? Confesso que penso em você como é uma daquelas criaturas que grava mensagens no ar e depois some pelo sertão, de que me falava minha vó paraibana. Obrigada, pela lindeza forte do texto e pelo prazer de renovar o contato. Afeto, Bernadette Lyra
http://www.jornaldepoesia.jor.br/bernadettelyra.html
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Marisa Cajado |
Franciscos e Cavalos
São Franciscos e cavalos Nos vales, do São Francisco Cavalgaduras , estalos Entre poeiras e ciscos. Poeiras, nos olhos ralos, Profundos e misteriosos, Que trazem nos seus embalos, Ensinamentos grandiosos.
Grande abraço amigo Muita paz. Adorei sua página |
José do Vale |
From:
<jvale@centroin.com.br>
Sent: Saturday, October 31, 2005 8:04 AM
SF:
Da oferenda ao consumo um intervalo do tempo se foi, puxado como um balde de cacimbão, das jornadas intermináveis dos grandes centros urbanos. Afinal não peregrinei apenas na notícia do e-mail que enviaste, busquei a raposa fustigada pela vigilância epidemiológica, assim como a mesma fustigada da Catuana à cidade pela sede do saber. Um saber clássico, das ordens católicas, em que se fundem a narrativa tribal de Israel, o vasto mundo grego e a instituição romana. No entanto, corre nele uma vertente ibérica, hípica, ou seja, árabe. De qualquer modo nos dois momentos: primeiro o peregrino do saber é um ser dos sertões, dos ermos, dos mandacarus e da luta solitária como rito de passagem aos 15 anos. No segundo momento é reflexão intelectual, o domador de cavalos. O soberano híbrido, centauro, o matuto a pé, agora fundido sobre o corpo das patas que rompem horizontes e chega à frente do sol. Iluminado o pensamento complexo, oposto da jornada noturna quando nem lanterna a pilha havia. Quer dizer, SF, um ser sui generis, um pé no mundo rural e um outro na cidade. É o penúltimo espécime ainda a compreender o quão diferentes foram estes dois mundos: o arcaico e a pós-modernidade. Depois, só existirão, com a força da realidade e da verdade, os seres urbanos, únicos e não híbrido como SF que ainda corre para vencer o sol. Abraços.
José do
Vale |
Rodrigo Petronio |
From:
Rodrigo Petronio
To:
Jornal de Poesia
Sent: Thursday, November 10, 2005 2:53 AM
Subject: Re: Poeta Petronio, onde andas?
Francisco querido
Me diverti imenso, como dizem os portugueses, com sua hipomaquia! Essa união com Kafka e com a bela gravura do Blake, aliada a toda a doidera desse diálogo entre Francisco e Soares foi uma coisa impagável! Também me diverti muito com as referências literárias: Já o filósofo Thomas Hobbes perdeu uma bela oportunidade de exemplificar o pacto social em cima do cavalo. Ou com essas divagações filosóficas, entremeadas à loucura geral da cavalgada: Comandos? Tudo no âmbito da pré-linguagem. Uma beleza homem! Parabéns. Logo em seguida entrei por acaso no domínio da equipe de realização do JP. Quando deparo com o senhor Francisco na rede! Dormindo! Dava até pra ouvir o ronco do trabalho! E confesso que fiquei muito emocionado com as fotos de sua família, querido. Avós, fotos de casamento, toda a estória, não conhecia essa página do JP. Gostei muito de conhecê-la. Parabéns pela cavalgadura humana, mestre. Sempre por aqui teu leitor e amigo. Forte abraço Rodrigo
Nota do editor: O sono de Francisco? Basta clicar |