Fontoura Chaves
A SOLIDÃO É UMA ESTRADA 
 
O ocioso é como um relógio sem 
ponteiros:inútil se caminhaou 
se está parado. 
(William Cowper) 

"A paz é fruto da árvore do silêncio" 
Quer te cases, quer não te cases, chegará 
o dia em que te arrependerás. 
(Sócrates) 


A solidão é uma estrada,
Que nos leva a grandes percursos,
Do lado de lá onde se esconde cada um de nós,
Nos penetrais do que somos
Sem etiquetas e escusas.
 
 

A solidão é uma estrada,
Que, com segurança, nos indica rumos,
Que, sem óculos de aumento, nos aponta direções, 
Os rumos e direções do autoconhecimento.
 
 

A solidão é uma estrada,
Mais que estática, é dinâmica,
Mais que isolamento, é libertação,
Mais que pousada, é caminho,
Mais que caminho, é viagem na reta preferencial,
Que leva à sabedoria e à felicidade plena.
 

A solidão é uma estrada,
Que começa dentro de nós,
Avassala o tempo,
Percorre o espaço
E por onde passa abre todas as portas,
Fecha muitas portas,
Notadamente, a dos sentidos,
A da percepção, da mente e do coração.
 
 

A solidão é uma estrada,
Que leva a todos os horizontes,
Que  nos põe os pés no chão
E as mãos tocando o infinito
E os olhos no sem-fim.
É a parceira mais fiel,
É a mais fiel companheira.
Nosso silêncio, nosso grito.
Nosso autoconhecimento,
Nossa libertação 
 

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Fontoura Chaves
SAUDADE
...Eu que fui matar saudades
Vim de saudades morrendo.
(Ademar Tavares)


Sentida voz de um coração suspenso
Entre o fugir e o procurar. Em meio
De mil afetos que se enlaçam, penso,
Na interseção do mais ingrato anseio.
 

Êxtase suave de um pungir intenso,
Em que se fica reversal e alheio,
Sombra de céu num purgatório imenso,
Cheio de tédio e de euforia cheio.
 

Doce presença de uma ausência amara,
Rastro de luz que a noite alonga e aclara,
Na persistência de um desterro infindo...

Filha da dor...do amor. O ser tristonho,
Sentindo-a sofre...goza mais de um sonho,
E nessa angústia lacrimeja rindo...
 

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Fontoura Chaves
O BOA-VIDA
 
 
Não importa se o gato é branco ou preto.
O que importa é que ele pegue o rato.
(Provérbio Chinês)

A verdadeira riqueza não depende da
abundância do patrimônio, mas da 
satisfação interior.
(Maomé)

A experiência aumenta a nossa sabedoria,
mas não elimina as nossas tolices.
(Leon Tolstoi)


É um "bom vivant". Não se aborrece.
Não perde a calma, e a voz tampouco altera.
Problemas se os tem, não transparece,
Pois age, como se nunca os tivera

Tem do califa o jeito, e até parece
Que, nesta vida, nada mais quisera,
Senão gozar o que mais lhe apetece,
Sem fazer força, é claro, assim o espera.

Dos sonhos, ilusões, percorre o mundo,
Sem dispersar, sequer, um só segundo,
Alheio a compromisso e a contratempo.

Embora se intitule um aprendiz
Do "dolce far niente", sempre diz
Que só trabalha, quando sobra tempo.
 

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Fontoura Chaves
VERGONHA NACIONAL
 
Ipse miserrima vidi quaeque.
(Virgílio Marão) 

Os que não são vencidos pela verdade,
acabam sendo vencidos pelo erro.
(Santo Agostinho)

"Nem tudo que se enfrenta pode ser
modificado. Mas nada pode ser
modificado, se não for enfrentado."

Com jeito de carrasco, o sol dá gargalhadas,
Infenso à imolação da nordestina gente,
Que em ao exaspero foge aos tombos, nas estradas,
Tangida pelo guante edaz da seca ardente.

Um holocausto atroz — nos campos, nas chapadas,
Devastação total. Sequer vinga a semente.
Só restam para trás caatingas estonadas,
Carcaças de animais no chão seco e adurente.

Restolhos secos vão surgindo, lado a lado.
Aqui passava um rio. Ali já foi roçado.
E o resto — a solidão sem volta e sem atalho.

Vergonha nacional que a farsa patenteia —
Enquanto a Pátria cava poço em terra alheia,
Ilude o pária-irmão com frentes de trabalho.

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Fontoura Chaves
RECORDAÇÃO
 
 
A velhice dá dimensões às
coisas vulgares.
(Câmara Cascudo)

A justiça, quase sempre, é a conveniência
do mais forte.
(Sentença de Platão)

O mar parece todo um só gemido..
E eu mal sustenho o coração partido,
Ó terra de meus pais, ó minha terra.
(Luis Guimarães Junior)


Não perdi de criança a visão
Do longe sertão
De encantos sem par,
Onde o poeta já nasce sonhando
E sonha cantando
O sol e o luar.

É uma aldeia pequenina,
Entre o prado e a colina,
Muito perto... tão distante..

Vejo-a na imaginação,
Como pérola engastada
Na saudade mais danada
Que me dói no coração.

Vejo o sol, que é mais bonito, 
Que de luz parece um grito
No clarão do alvorecer.

Vejo a lua, despontando,
Nuazinha se mostrando,
O infinito a percorrer.

Vejo o sino da colina,
Na amplidão a suspirar,
Nessa hora mais divina
Que é o adeus crepuscular.

Quando tudo nisso eu penso,
Tão distante e, assim, tão perto,
É-me a vida um sonho intenso,
É-me o sonho um céu aberto.

Cesse um dia o meu sonhar
E, de vez, possa eu voltar
A beijar aquele chão
E morrer à luz da vela,
Dessa lua, que é a mais bela, 
Do meu mundo de ilusão.

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Fontoura Chaves
QUANDO OLHO PARA O MAR
 
No mar, no mar, no mar,
Eh! pôr no mar, ao vento, às vagas,
A minha vida.
(Fernando Pessoa)

O que é o homem na natureza:
Nada—comparado ao infinito,
Tudo—comparado ao nada.
(Pascal)


Quando olho para o mar,
Sou beduíno do mar,
Sou viajante de mim mesmo.
Singro os oceanos da imaginação,
Deixo em terra todas as mágoas,
As baías das frustrações ancoradas.
Navego rumos sem remos e sem rimas.
Atraco em todos os portos,
Falo todas as línguas,
Abraço negros, brancos e amarelos.

Quando olho para o mar,
Sou o pescador que não fui,
Porque troquei as redes de pescar peixes
Por redes de pescar sonhos,
Que estas não se rompem jamais.
Duram mesmo que a vela se rompa,
Duram mesmo que o leme se parta,
Duram mesmo que a nau encalhe
Definitivamente, no porto do tempo.

Quando olho para o mar,
Gostaria de ter alma de pintor
Para arrastar para a tela
A imensidão dos mares,
A linha reta do horizonte
E a arqueadura do firmamento,
Sem reta, sem horizonte,
Sem praia, sem uma só praia.

Quando olho para o mar,
Faço idéia do que o poeta sente,
Imagino o que o poeta vê.
Bato palmas a Caimi e a Giacomo Leopardi,
Vou-me embora no vôo de cada gaivota,
Converso com o silencio,
Viajo com a solidão,
Caminho com o sol de todas as alvoradas,
Namoro a lua de todas as serenatas.
Mergulho em todas as ondas
Que me lavam a alma
Caminho no clarão dos raios
Que me levam o medo.
Adoro a paz, a tempestade, o grito.
Gosto de ver enfurecido o raio
Em ziguezague, abrindo brechas no infinito.

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Fontoura Chaves
TAMARINDEIRO DO SEMINÁRIO
 
Senectus ipsa morbus.
(Terêncio)
Qual peregrino, escravo de um fadário,
Os pés sangrando, aos tombos, sem bordão,
Ei-lo, arranchado, lá, no seminário,
Contando histórias de uma geração.

Vem de um passado longe, rude e vário,
Braços desnudos, suplicando em vão,
Como um velhinho, doce e solitário,
Tirando a esmola da recordação.

Tudo se foi! E agora, tão sozinho, 
É da poesia, o mais antigo ninho,
Sonorizando a solidão de ais.

Ah! como se fala mesmo assim cansado,
Num grande apelo, em nome do passado,
Lembrando coisas que não voltam mais!
 

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Fontoura Chaves
DESTINOS SEMELHANTES
 
O juízo do homem é muito mais temeroso
que o juízo de Deus. No juízo de Deus até
um ladrão se salva: no juízo dos homens
até João Batista se condena.
(Padre Vieira)


Era uma benção ver o legendário
Tamarindeiro, onde o Bequimão
Fora enforcado, lá no seminário,
Por ter sonhado livre o Maranhão.

O tempo, esse carrasco perdulário,
Não se atreveu causar-lhe um arranhão.
No entanto, o vil machado de um sicário,
Sumariamente, o despedaça ao chão.

Quanta ironia! Teve a mesma sorte
Do pátrio herói — foi condenado à morte,
Sem direito a defesa e a julgamento.

E, por consolo, não restou senão
A cruz, fincada sobre a tradição,
Na cova rasa do esquecimento.

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Fontoura Chaves
OLHOS DIVINOS DE MARIA DO CÉU
 
Eram duas auroras
Aqueles olhos tristonhos:
De dia, enchendo-me as horas,
De noite, enchendo-me os sonhos.
(Primo Vieira)

Vergine Madre, figlia del tuo Figlio,
Umile ed alta più che creatura.
(Dante)

Quando os teus olhos vejo, ó Mãe, tu que fizeste
À tua sombra Deus também crescer mais santo, 
Enxergo estrelas pela hiante vida agreste,
E a minha vida sob "a estrela" do teu manto.

E quando estou sofrendo em esvasado pranto,
Basta fitá-los....E meu ser de luz se veste.
Não poderia Deus, oh! não! achar portanto
Olhos mais puros em uma face mais celeste.

Casta menina, ó Mãe donzela! Noto, agora,
Que dos teus olhos mais me sinto consagrado,
Na proporção que sagro os olhos te adorando.

Longe de Ti não vague um dia. E muito embora,
Em momento nenhum, deixei de ser-te amado,
Dá-me a ventura mais — a de morrer te olhando.

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Fontoura Chaves
CATEDRAL DE PEDRA
Não. Nem templos feitos de ossos
Nem gládios de cavar ossos
São degraus de progredir.
(Castro Alves)

Todo fenômeno envolve uma realidade.
(Eça de Quieroz) 

A imensa Catedral, que o sempre ousado tino
De gênio bandeirante impôs, espaço em fora,
Orgulha-me dizer que fora um peregrino,
Rochedo, à solidão largado. Mas, agora,

Aos golpes do cinzel de um lapidário fino,
É transformado. Vai subindo, hora por hora,
Até que um belo dia, após rude demora,
Atinja a perfeição que exige o seu destino.

E não falta quem louve a desmedida altura,
O primor dos vitrais, a fina arquitetura,
O belo, a perfeição que na arte se aprimora.

—Homem! Se alguma vez, sem mérito ou ciência,
Tiveres de subir por simples coincidência,
Não deixes de pensar no que tu foste outrora.
 

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Fontoura Chaves
VOCÊ, ASSIM
 
E, quando os olhos para o céu levanta,
Inundados de mística doçura,
Nem parece mulher, parece Santa.
(Adelino Fontoura)


Beleza singular, que atrai e espanta,
Fascina e agride: um charme encantador.
Um rosto assim de pecadora e santa,
Um porte assim, feito um botão em flor.

Assim eu vejo a perfeição, que é tanta
Desse teu corpo cheio de calor.
Sorriso lindo que o luar suplanta,
E a boca em forma de canção de amor.

A vida, a cada hora a gente faz.
Canta essa vida e não te esqueças mais
De que só tu podes mantê-la infinda.

E guardarei de ti feliz lembrança:
De possuir, ao menos, a esperança
De te olhar mais uma vez ainda.

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Fontoura Chaves
Do Prof. Austregésilo de Athayde; eleito mais de 30 vezes Presidente da Academia Brasileira de Letras:
 

          "A leitura de seus versos basta para consagrar sua vocação literária.
          Revive talvez nesta sua obra a inspiração de seu grande ascendente.
          Peço-lhe que receba as minhas palavras que não são de estímulo, porque você já está realizado, e sim de estímulo no amor das letras nacionais."
 

Do Escritor e Poeta Senador Artur da Távola:
 

         "ESCRAVO DE UM FADÁRIO *

          Afinal, o que é poesia? A forma acurada? A sonoridade dos versos? O conteúdo poético? A reflexão expressa pela quintessência do idioma? A síntese significante da dúvida? A capacidade de ver o verso, o outro lado da aparência? A métrica irrepreensível? A lírica que lhe impõe a música? O símbolo tornado verbo? Não sei. Prefiro responder: tudo. E, se possível, misturado. Esta porém, é opinião pessoal. Cada poeta possui a sua visão e concepção de poesia. Todas são válidas e qualificadas, quando bem feitas, isto é, realizados dentro das
finalidades a que se propõem.

          É o caso deste livro. Setenta anos depois da revolução do modernismo, das duas uma: ou ele é muito antigo com a finalidade (esta sim moderna, urgente, inadiável) de salvar o idioma qualificado. Ou é contemporâneo sob a forma de protesto contra a corrupção do texto, da fala e do verso, praticada de modo impune no País, do modernismo para cá, não por culpa deste mas como resultado da deterioração geral de todas as práticas sociais, das quais a língua é a primeira a sofrer. Verifica o modo de falar de uma sociedade e lhe
saberás o grau de (in) (e) evolução..

          Antônio William Fontoura Chaves radicaliza. Vai buscar na lapidação do idioma o seu instrumental. Algum mergulho no romantismo. Arrebatadas passagens condoreiras. Tinturas do simbolismo. Tudo, porém, refinado,
econômico, alto índice de precisão, sem exagero formal, apenas qualificado uso do idioma.

          Também nos temas, a nostalgia lírica predomina. Eles são (em)bebidos na inspiração romântica: a mãe, velhas árvores da infância, a cidade natal, a epopéia paulista, o poente e suas sinonímias com a vida, hábitos e
vivências simples do camponês, o rancho   "shan-gri-la", a Virgem soluçando no Calvário, a vontade sopitada da elevação do sacerdócio.

          Impressiona, porém, a qualidade literária, o domínio lúcido da forma, o andamento irrepreensível dos versos, a lembrar Paul Valéry quando dizia: "O valor de um poema consiste na indissolubilidade de som e sentido..

          É o caso.

          Som e sentido trazem a união necessária para a qualidade dos poemas de Fontoura Chaves, dentro dos marcos da estrita literalidade pré-modernista a que se propõe como forma de recuperar a consistência do idioma ameaçado pela vulgaridade. Seus versos são gritos de saudade, reco mposição de um tempo de valores mais altos e ideais carregados de uma esperança que dia a dia desaparece tanto dos corações como da língua dos contemporâneos."

          * O título deste flagrante é um verso de Cantos e Encantos.

Do Poeta Francisco Igrejas:
 

          "Estou encantado. Você é mesmo da Terra de Gonçalves Dias. Só sinto falta de uma coisa, o que não tem nada a ver com seu trabalho, é o teor de modernidade que não está presente. Mas pode ter certeza que dentro de
sua linguagem você é um mestre, e mesmo assim ele encantou.

          Ler suas poesias foi para mim um prêmio...

          A técnica é de mestre. Acho até, me desculpe, que foi sacanagem me pedir opinião." 

Do escritor, Diógenes da Cunha Lima - Presidente da Academia Norte-rio Grandense de Letras:
 

          "Os seus cantos me encantam. São trocadilhos. Gosto do seu verso bonito, camoniano, gerador de emoções.

          O gosto clássico se denuncia pelas sentenças selecionadas nas citações.

          Continue a produzir boa poesia.

          E não me esqueça."

Do escritor e poeta francês Jean Paul Mestas, 
em sua publicação JALONS, nº 67:
 

           "Né em terre de Maranhão, il est avocat et réside à Rio de Janeiro. Homme de foi et de culture, il pose um ocil averti sur le savoir mondial, cependant que sa poésie traduit l'ampleur du regard qui déchiffre l'
homme et ses univers.

Do escritor JORGE CALMON:
 

           "Muito lhe agradeço o oferecimento do exemplar de "Nas Dobras do Tempo", que já comecei a ler, de logo rendido à beleza de sua poesia e à prosa, tocados pela religiosidade transparente. Terminada a leitura, encaminharei o livro, como sempre faço com as boas publicações referidas, à biblioteca da Academia de Letras da Bahia, a que pertenço. Com a renovação do agradecimento, queira receber os cumprimentos do compatrício e admirador. 

Jorge Calmon.
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