Álvaro de Campos
 
Lisboa
 
    Lisboa com suas casas 
    De várias cores, 
    Lisboa com suas casas 
    De várias cores, 
    Lisboa com suas casas 
    De várias cores ... 
    À força de diferente, isto é monótono. 
    Como à força de sentir, fico só a pensar. 

    Se, de noite, deitado mas desperto, 
    Na lucidez inútil de não poder dormir, 
    Quero imaginar qualquer coisa 
    E surge sempre outra (porque há sono, 
    E, porque há sono, um bocado de sonho), 
    Quero alongar a vista com que imagino 
    Por grandes palmares fantásticos, 
    Mas não vejo mais, 
    Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras, 
    Que Lisboa com suas casas 
    De várias cores. 

    Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa. 
    A força de monótono, é diferente. 
    E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo. 

    Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo, 
    Lisboa com suas casas 
    De várias cores.

 
 
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *