Epitácio Mendes Silva



Meu caro velho

Quando te vejo, cansado e cabisbaixo, lembro das tuas histórias ricas e curiosas. Teu olhar, mesmo não tendo os olhos do passado, mantém os tons do mundo um dia cor-de-rosa. Por vezes surpreendo-te em lágrimas que justificas tremulando a voz, das palavras que dizes, ao acaso, mas um acaso transformado em ocaso. Uma coisa é certa: ainda tens o riso da criança, num corpo envelhecido, a fugir da solidão e buscar pelos caminhos antigos perfumes de rosas e de lírios. Meu caro velho, a tua antiguidade é luta contra o tempo e a idade. E esta luta está no brilho dos teus olhos toda a vez que, alegre, falas de amor...


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