Egito Gonçalves
Os Vegetantes
					Continuam aqui
					roendo as unhas!
					Substituem as unhas por poemas 
					(ou cafés, futebol, anedotário) 
					e estilhaçam espelhos que na luz 
					ao seu devolvem a cruel imagem.
					Vidrado limo o rosto 
					de rugas sem memória 
					assistem à vida como um filme: 
					disparar sobre a tela é proibido 
					e além do mais inútil.
					Curvam ao solo os ombros 
					escorjados; curvam-nos para 
					duradouras urtigas, seixos 
					sem horizontes, epitáfios 
					de lama, dezembros, poeira fria.
					Se chovem as esperanças não acorrem 
					a apanhá-las na boca ao ar aberto.  
					Tijolo articulado a língua balbucia 
					"É a vida!".  Sementes violadas 
					não germinam.
					Em vão os bombardeiros os oráculos 
					com agulhas de sangue.  Nada tentam 
					para vida à fala que utilizam, 
					ao país do cansaço que entre dentes 
					ressaca.
					E fazem do amor essa triste umidade,
					um delíquio formal logo amortalhado.
					São dóceis, cibernéticos,
					dia a dia premiados 
					de alguns gramas a mais 
					no chumbo do pescoço.
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