Eugênio de Freitas 

Escravização
 
Na expectativa de rimar, parece 
que já não sou, eu só, o autor que traça  
o que imagina; é como se estivesse,  
involuntariamente, em plena graça. 

Na inspiração o artista permanece,  
até que seu lavor o satisfaça,  
dando-lhe ensejo de atingir a messe  
da glória tão esquiva quanto escassa. 

Quando completo meu trabalho, noto  
que eu não supunha, exatamente, assim  
a forma certa de que sou devoto. 

Tudo o que eu tenha de melhor em mim,  
na construção de meu poema esgoto,  
na vã tortura do sonhado fim.

 

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Página atualizada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  24 de novembro de 1997