Elza Beatriz de Araújo

Sobre a Poesia de Luiz Edmundo Alves
                  
 
       A poesia não habita as coisas - ela as toca. Então tudo pode servir de matéria para o poema. Mas e a voz da poesia ? Assim plural, mutante ubíqua até - ora aqui, ora ali e aqui e ali a um só tempo - deter-se-a essa voz além de um sopro ? 
    
       Muito bem achado o título deste livro de Luiz Edmundo: SOPRO. Não sendo uma voz, um sopro faz parte de todas as vozes. Daí fraglar Luiz o respirar da poesia, dentro de si, na contextura de "um silêncio incômodo, algazarra clandestina, uma lua, dois desejos e também guitarra, foice, coice"como nos revela em instantâneo. 
    
       A maioria de nós, em seu colóquio com a vida, fala o tempo todo. Os poetas não. Os poetas sobretudo a escutam. E porque afinam seus ouvidos nessa escuta, são capazes de perceber o roçagar da poesia mesmo nas dobras dos  silêncios. Se lhes damos atenção, repassam-na a nós, menos na fala das palavras, do que no sopro mágico que as volatiliza, em toque de flor, "na temperatura exata para um incêndio".
 
 
                                        

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  25  de  Maio  de  1998