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Mário Chamie
 
Chamie, junho 2001"Véio" Chamie, c'a gota, vejam: 

"Por exemplo, a coletânea Artes e Ofícios da Poesia (SMC/Artes e Ofícios editora, 1991), organizada por Augusto Massi. Ler os depoimentos e poemas, ali presentes, revela os ofícios e artes de uma poesia que tapa os ouvidos para fugir da própria voz. Os poetas que lá estão, em sua maioria, primam pela paráfrase, citação, cópia, transcrição e rasura de discursos alheios já consagrados. De Sebastião Uchoa Leite, passando pelo epígono da poesia práxis, Armando Freitas Filho, até José Paulo Paes ou Francisco Alvim, o diapasão parece ser um só: andam muito à sombra de autores ou tendências que veneram, nutrindo-se de seus resíduos e suas migalhas. Mal comparando, lembram células sem DNA próprio. São, por isso, criativamente desimportantes, apesar de bem cultivados em seus ofícios e artes. Mário de Andrade os chamaria de "preparatorianos", ou seja, de ótimos e aplicados aprendizes. Outros preparatorianos, da estimável estirpe de Nelson Ascher, Carlito Azevedo ou Arnaldo Antunes, caso fizessem parte da coletânea acim..."

JOSÉ CASTELLO 

O poeta e crítico Mário Chamie, criador da Poesia Práxis, que marcou profundamente a poesia brasileira na segunda metade do século 20, estará hoje, a partir das 20h30, no Instituto Moreira Salles de São Paulo, conversando com o público na série "O escritor por ele mesmo". Suas idéias estão, como sempre, afiadas. "A Práxis se caracterizou por combater escolas e movimentos", diz. Partindo da idéia de que todo autoritarismo é ortodoxo e sectário, que todo grupo fechado é perigoso, Chamie vê a Práxis e seus preceitos (se é que a palavra, que evoca a rigidez, pode ser usada nesse caso) mais vivos do que nunca. "Para a Práxis, a palavra poética nunca deve ser refém de uma teoria prévia", ele diz, concepção que combina exemplarmente com a época da fragmentação e estilhaços que caracteriza não só a poesia, mas toda a cultura. Trinta anos depois das idéias que fundaram a Práxis, Chamie parece mais agitado que nunca. E disposto a lutar pelos espaços abertos, pelos movimentos sem fronteiras, pelo pluralismo e pela liberdade na poesia. "Penso que a poesia é a linguagem das linguagens", ele considera, "pois é por meio dela que o inesperado na linguagem se anuncia". Para preservar a perspectiva do inesperado, contudo, é preciso escrever sem saber o que se deseja encontrar. Em outras palavras, é preciso conservar a liberdade interior. Chamie cita Ferreira Gullar, Bruno Tolentino e Hilda Hilst entre os poetas que, hoje, pelo que se permitem de liberdade, pela autonomia que se concedem ao escrever, dão continuidade aos ideais propostos pela Práxis. É com esse mesmo fôlego de iniciante que ele trabalha num inédito, Horizonte de Esgrimas, título apenas provisório. "Continuo fiel à coragem de desconfiar de todo e qualquer consenso", ele diz. Preservando esse sentimento selvagem, que Chamie representa, pode-se ler a poesia hoje feita no Brasil com menos superstições e mais surpresa. São os mesmos valores, de liberdade intelectual e disponibilidade para o novo, que se manifestam na entrevista que se segue. Perguntas que Chamie fez questão de responder lentamente, ao longo de mais de dois meses de conversa, e por escrito. 

Estado - Em que medida as idéias da chamada Instauração Práxis ainda são atuais? Em que medida os conceitos que desenvolve ainda podem operar e influir na poesia brasileira de hoje?

Mário Chamie - Movimentos e escolas literárias tendem a ser datados com o passar do tempo. A Práxis se caracterizou por combater escolas e movimentos. Ela trouxe ao debate das vanguardas, entre nós, algumas formulações críticas e criativas opostas a sistemas fechados de doutrinas estéticas. Por isso, o seu alvo principal, nos anos 60, foi o concretismo, então modelo de autoritarismo poético. Todo autoritarismo é ortodoxo e sectário. O concretismo, enquanto movimento centralizador, nasceu sob o império do controle, já a partir do seu manifesto nuclear, o chamado Plano-Piloto. Para Práxis, a palavra poética nunca é refém de uma teoria prévia. A liberdade de sua criação é, em si, uma heterodoxia ativa. Quando o poeta, no exercício dessa liberdade, encontra ou inventa a sua palavra, ele não precisa pedir a bênção consensual ao receituário de nenhum plano preestabelecido. Daí porque Práxis não é um episódio datado na história de nossa literatura. Sua presença combativa impediu que, nos anos 60, fosse imposto um discurso hegemônico e exclusivista à nossa poesia. Isso preparou o terreno e legitimou a pluralidade de alternativas de nossa produção artística, dos anos 70 até hoje. Antonio Candido sintetizou muito bem essa legitimação ao escrever: "A Poesia Práxis recuperou o verso de maneira renovada e intensificou a referência às circunstâncias do mundo." 

Estado - Essa preparação de terreno incluiria o que se pode chamar de pós-modernidade da poesia brasileira do fim do século 20?

Chamie - Vários estudos e ensaios sinalizam na direção de que Práxis representa uma passagem da modernidade à pós-modernidade na poesia brasileira contemporânea. É o caso do livro Retrato de Época/Poesia Marginal, Anos 70, de Carlos Alberto Messeder Pereira. Nesse livro, o autor admite que as nossas objeções aos conceitos de movimento, sistema e tecnicismo poético "desempenham um papel de peso" naquela transição. De fato, depois delas, começou-se a falar, no Brasil, em poesia da década de 70, 80 e 90. Essa substituição do conceito de movimento literário pelo conceito de época ou década foi muito significativa. Ela aconteceu num momento histórico em que as noções de movimento e sistema já eram utilizadas pelo golpe militar de 1964 como identificadoras de seu projeto ditatorial. Evidenciou-se, com a substituição, que tanto em literatura quanto em política as expressões "movimento" e "sistema" são sinônimas de repressão e prepotência. Repressão no sistema literário, prepotência no sistema de poder. Esse duplo cerceamento sufocou a práxis individual do artista e sua subjetividade criadora. Foi, exatamente, contra a língua e o discurso desse sufoco que se insurgiram a fala coloquial e o idioleto anárquico dos chamados poetas "marginais". 

Estado - Você vê relação direta entre o sistema do regime militar de 64 e o aparecimento da chamada poesia marginal dos anos 70? 

Chamie - Sem dúvida. A poesia dos anos 70 assumiu a sua marginalidade frente a tudo o que lembrasse poder ou sistema político e literário. Razão pela qual os poetas marginais não constituíram um movimento, não se organizaram em grupo homogêneo, nem lançaram qualquer manifesto programático. Despolitizados, Literatura e Estado, para eles, eram faces da mesma moeda, cunhada pelo mito da norma e do controle. Mais: Literatura e Estado, a seu ver, se contrapunham à vida cotidiana e anônima das sensações e emoções individuais. Se a poesia anterior se exilava no corpo social (para combatê-lo ou não), a poesia da década de 70 procurou exilar-se no corpo físico das pessoas e do próprio poeta para, numa réplica negativa do corpo social, romper seus limites. A experiência corpórea desse rompimento incluía a droga, o sexo e outros avatares da contracultura. Assim, bem ou mal, a poesia da década de 70 'cenarizou' o embate da vida contra a letra, o que o bom humor do poeta Cacaso soube resumir neste seu poemeto: "Poesia/ eu não te escrevo/ eu te/ vivo/ e viva nós!" 

Estado - Você tem sempre sustentado a primazia da poesia sobre as outras linguagens e os demais gêneros literários. Se é assim, por que a grande mídia reserva pouco espaço a ela? 

Chamie - Penso que a poesia é a linguagem das linguagens, pois é nela e por ela que o inesperado dizer sobre as coisas se anuncia. Ela é sempre inaugural e desconcertante. Não se domestica com poéticas a palavra imprevisível do poema. Platão rejeitou a presença dos poetas em sua República por desconfiar da força desestabilizadora de suas transgressões. Hoje, a República que tenta descartar a poesia é outra. É uma república de mil faces, sob a regência de um deus único e poderoso: o Mercado. Este tem na mídia o espaço específico para o funcionamento de sua lógica, que privilegia a mercadoria, o consumo ou as falsas objetividades, divididas entre a "auto-ajuda" e o entretenimento massificante. Ora, sem valor mercadológico e longe de ser entretenimento ou auto-ajuda, a poesia não cultiva igualdades apaziguadas. Ao contrário, ela devassa discursos, libera diferenças, não pacifica e traz inquietude. Utopia incessante de si mesma, a poesia sopra sobre as repúblicas estáveis do consenso os ventos do dissenso, com que cada poeta dita a própria singularidade. Baudelaire emblematizou essa singularidade na figura do flaneur ou do apache, ou seja, na figura daquele indivíduo que, mesmo fazendo parte da massa urbana padronizada, reconhecia-se único e solidário, ao mesmo tempo. A lição permanente de Baudelaire é esta: no horizonte da poesia não há lugar para a mesmice multiplicada ou repetida. Que todo poeta seja singular e faça a sua diferença! 

Estado - Depois do anos 70, a poesia brasileira, a dos anos 80 e 90, inventou um novo dizer ou recaiu na mesmice multiplicada de que você fala? 

Chamie - De certo modo, os poetas de 80/90 (surgidos no período ou remanescentes dos anos 60) estão para as vanguardas e a poesia marginal assim como a geração de 45 esteve para o modernismo. Tomada ainda por resquícios livrescos, a produção desses poetas retraiu-se a nichos universitários, antologias, coletâneas, coleções ou corporações autopromocionais. Curiosamente, o aumento de suas publicações e a ampliação de seus nichos somam menos as diferenças e multiplicam mais as igualdades. Não se destaca nessa produção nenhuma personalidade criadora, marcante e original. Para se ter idéia disso, basta recorrer às suas coletâneas ou antologias. A leitura de uma valeria pela leitura de todas. Por exemplo, a coletânea Artes e Ofícios da Poesia (SMC/Artes e Ofícios editora, 1991), organizada por Augusto Massi. Ler os depoimentos e poemas, ali presentes, revela os ofícios e artes de uma poesia que tapa os ouvidos para fugir da própria voz. Os poetas que lá estão, em sua maioria, primam pela paráfrase, citação, cópia, transcrição e rasura de discursos alheios já consagrados. De Sebastião Uchoa Leite, passando pelo epígono da poesia práxis, Armando Freitas Filho, até José Paulo Paes ou Francisco Alvim, o diapasão parece ser um só: andam muito à sombra de autores ou tendências que veneram, nutrindo-se de seus resíduos e suas migalhas. Mal comparando, lembram células sem DNA próprio. São, por isso, criativamente desimportantes, apesar de bem cultivados em seus ofícios e artes. Mário de Andrade os chamaria de "preparatorianos", ou seja, de ótimos e aplicados aprendizes. Outros preparatorianos, da estimável estirpe de Nelson Ascher, Carlito Azevedo ou Arnaldo Antunes, caso fizessem parte da coletânea acima, com certeza se irmanariam na multiplicação dos pães e peixes da igualdade. A desimportância criativa, porém, não anula a importância histórica dos preparatorianos: a de manterem a poesia em promissor e superável compasso de espera. 

Estado - Quem, hoje, na poesia brasileira, estaria fora desse quadro preparatoriano? 

Chamie - O assunto me faz pensar num paradoxo. Certa vez, perguntaram a Jean Cocteau quem seria o maior poeta francês. Cocteau respondeu: "Victor Hugo, o que fazer..." (Victor Hugo, hélas...). Apesar de Baudelaire, Rimbaud ou Mallarmé, o inquieto Cocteau, em meio aos preparatorianos residuais da vanguarda européia, lembrou-se de um poeta que encharcou sua poesia de realidade histórica, de dramatizações vocabulares ou de paixões individuais e coletivas. Claro que os nomes que citarei não têm nada a ver com Victor Hugo, assim como os rasuradores da resposta anterior nada têm a ver com Baudelaire, Mallarmé ou Rimbaud. Mas dentro de um paralelismo imperfeito, estariam fora desse quadro todos aqueles autores que, entre riscos e apostas, se empenharam na descoberta de sua linguagem autônoma, por meio da qual nos seja possível ver, ouvir e testemunhar, na "referência às circunstâncias do mundo", uma objetividade menos óbvia e mais surpreendente. Ferreira Gullar, Bruno Tolentino, Hilda Hilst, Gerardo Mello Mourão, Alberto da Cunha Melo não estariam entre aqueles que, a seu modo, ignoraram os apelos e as conveniências de uma poesia preparatoriana. 

Estado - A crítica tanto quanto a poesia está também recolhida em nichos? 

Chamie - Como disse Proust: "l'être suit son vice". Acredito que sim. Veja a chamada crítica universitária. Ela atua por adoção e exclusão. Os adotados pelo nicho são, necessariamente, fundamentais e valiosos. Essa atitude descamba para um tipo de crítica que eu chamaria de celebração seletiva. Qualificados ensaístas e eméritos professores a exercitam. Um recente e brilhante exemplo dessa atitude pode ser encontrado no artigo 'Elefante Complexo', de Roberto Schwarz (Jornal de Resenhas, Folha de S. Paulo, 10/2/2001). O artigo é uma pérola celebratória que passa ao largo de inconsistências e equívocos explícitos do livro que louva. Ora, a base de toda celebração costuma ser o louvor. Sabe-se, também, que o louvor não tem compromissos com a isenção nem sempre considera a fronteira legítima das análises objetivas. Felizes são, portanto, os chamados e escolhidos pelos nichos do Senhor! 

Estado - Seu livro Lavra Lavra está completando 40 anos. Sua última obra poética é Caravana Contrária (1998). Navegar contra a corrente é uma forma de rever consensos estabelecidos? 

Chamie - De meu livro de estréia Espaço Inaugural a Lavra Lavra, e deste a Caravana Contrária e ao meu novo livro inédito Horizonte de Esgrimas (título provisório), continuo fiel à coragem de desconfiar de todo e qualquer consenso. Essa fidelidade, para mim, nobilita a solidão incorruptível do ato de escrever poemas. Uma solidão regida pela ética da verdade e da beleza, o bem maior que dignifica a vida e o destemor honesto do dissenso. Navegar contra a corrente é combustível dessa ética, já que a favor das correntes nem mesmo o mar se move. Não seria, talvez por isso, que, no famoso poema de Paul Valery, o mar está sempre começando e recomeçando? Navegar contra a corrente é preciso, pois nos ensina a descobrir e a conviver com o sentido de mão dupla, no ir e vir das idéias e das coisas. No meu poema Esboço de Breve Manifesto Dromedário, de Caravana Contrária, tento dizer algo a respeito. 

 

Entrevista concedida ao escritor
José Castello,
O Estado de São Paulo, 19.06.01
O seu comentário
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Resposta dos poetas
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José Castello
Críticas de Chamie causam mal-estar em intelectuais 
Maioria de críticos e poetas não responde às considerações publicadas no 'Estado' 
Mal-estar e silêncio: estas foram as reações dominantes entre os poetas e críticos citados na longa entrevista com o poeta Mário Chamie publicada pelo Estado na última segunda-feira ("Mário Chamie quer reinaugurar o debate poético", Caderno 2, página 1). 
Procurados pelo Estado, o professor Roberto Schwarz e os poetas Carlito Azevedo, Sebastião Uchoa Leite e Armando Freitas Filho preferiram não fazer qualquer comentário. O poeta Ferreira Gullar prometeu um depoimento por escrito, que não enviou. Arnaldo Antunes não respondeu às perguntas enviadas pelo Estado para seu e-mail pessoal, fornecido pela editora Iluminuras. 
Nelson Ascher, em viagem à França, e Francisco Alvim, que vive na Holanda, não foram encontrados, assim como Bruno Tolentino, Alberto da Cunha Melo e Augusto Massi. Restaram os depoimentos do crítico Carlos Alberto Messeder Pereira e, ainda que lacônicos, dos poetas Gerardo Mello Mourão e Hilda Hilst. 
Compartilhe-se ou não das idéias de Chamie, é doloroso verificar que, inaugurado o debate, o silêncio tenha sido a resposta mais comum. Para justificar seu silêncio, um dos poetas chegou a evocar Carlos Drummond de Andrade: "Nunca responda a ataques, mesmo que te acusem numa resenha de haver roubado um talher de prata em seu último lançamento." Contudo, basta reler a entrevista com Chamie - concordando ou discordando de suas teses, não importa - para verificar que não são acusações dessa ordem que a configuram. 
"Não leio poesia, o último poeta que me interessou foi Jorge de Lima", diz a poeta Hilda Hilst, atualmente ocupada com a leitura de filósofos como Wittgenstein, Heidegger e Kierkegaard. "Leio os filósofos, os matemáticos, os físicos, eles me interessam bem mais que os poetas", diz, concordando assim, indiretamente, com a análise nada entusiasmada que Mário Chamie fez da poesia brasileira contemporânea. E, por não se interessar por ela, esquiva-se também de comentar a entrevista de Chamie, na qual foi citada como uma das exceções honrosas. 
"Não leio nenhum poeta brasileiro contemporâneo, até porque não há", limita-se a dizer o poeta Gerardo Mello Mourão, outro agraciado com a simpatia de Chamie. Ao contrário dele, contudo, Mello Mourão não acredita que chegue a ser um defeito a referência constante das novas gerações, seja pela paródia, pela citação ou mesmo pela cópia, aos poetas consagrados. "Os poetas não podem estar alheios aos caminhos já abertos", ele afirma. "Jovens se servem sempre de vias abertas pelos que os antecederam. Não vejo mal nenhum nisso." 
Parte ativa - "Toda leitura é interessada e o Chamie fez a dele, legítima, é claro", comenta o crítico literário e professor Carlos Alberto Messeder Pereira, da UFRJ. "Não é questão de certo ou errado." Citado na entrevista de Chamie por causa de seu livro Retrato de Poesia/ Poesia Marginal, Anos 70, Messeder diz: "Fico muito contente que um livro escrito há mais de 20 anos ainda provoque leituras e interpretações. 
Especialmente de alguém como o Chamie, que fez parte ativa da história que tento entender." Messeder concorda com Chamie quando este chama a atenção para a importância da dimensão geracional da produção poética, muito mais eficaz para descrevê-la, a seu entender, do que o apelo a movimentos e grupos. 
Messeder acredita ainda que a poesia marginal dos anos 70 não só respondeu a um conjunto de questões que atormentavam os poetas brasileiros desde os anos 60, mas foi também "um fenômeno cultural mais amplo, com forte apelo geracional, especialmente para aqueles que, pela via da poesia, começavam a ingressar no debate cultural". Os marginais espalharam idéias que, naquele momento marcado pela repressão política e pelo estreitamente do debate cultural, vieram a "fazer uma revolução (um tanto anárquica) no plano dos costumes e do comportamento". 
Por essa razão, Messeder pensa, "falar simplesmente de um movimento literário seria, me parece, limitar a compreensão da riqueza do fenômeno". 

Ainda assim, a inserção da poesia marginal na série literária, ele acredita, deve ser ressaltada, "afinal de contas tratava-se de poesia, resultando no lançamento de alguns autores hoje bastante consagrados". De todo modo, acredita, a rebeldia de comportamento rompeu, efetivamente, com os cânones mais puramente literários da época.
In O Estado de São Paulo
Caderno 2,
23.06.2001