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Darcy França Denófrio


DARCY FRANÇA DENÓFRIO  nasceu na fazenda Nova Aurora, hoje município de Itarumã-GO, a 21 de julho de 1936. Autora de onze livros, distribuídos nas áreas; didática, crítica e literária. Sua crítica tem-se voltado fundamentalmente para a Literatura Goiana. Dedicou trinta anos de sua vida ao magistério, destacando-se como professora de Teoria literária nos cursos de graduação e pós graduação da Universidade Federal de Goiás.

ALGA MARINHA 

Alga marinha lançada ao mar aberto,
navego à deriva — não estou presa a nada. 

Quero achar o meu caminho — o do começo —
mas me instalaram nesse arremesso 
e não conheço a maré do princípio
que me jogou nesse permanente risco. 

Alga marinha nesse amaro mar,
sem pontos cardeais, mapa-múndi
ou estrela-guia, vivo à deriva. 

Não conheço meu porto (asseguro)
e um dia só serei verdes cabelos
envolvendo corpos destroçados 

que viajaram na maré montante
e chegaram afogados de aurora
à praia maior - de todos os oceanos. 

( Amaro mar, pág. 37, 1988)




O RISCO DAS PALAVRAS
(Para Moema de C. e Silva Olival) 

Ah! a miséria da oficina das palavras!
Onde pescar a que melhor convém?
                                       Maiakóvski 

Diante de você sempre emudeço.
Tenho as palavras batendo, ba-ten-do
ao peito mais que à garganta.
Mas é tão grande o risco das palavras
que, delas, finjo que me esqueço. 

Ah, as palavras, se não houvesse o risco,
eu diria todas, tropeçando em pedras
como algumas cachoeiras, mas jorrando
sem parar a urgência de suas águas. 

Mas as palavras acordam até mesmo 
os deuses mais adormecidos
e é melhor não dizê-las, guardá-las
como pedras, mesmo ferindo o peito. 

Se eu não as disse algum dia,
alguém lhe dirá sem medo do risco,
porque há os que abrem as comportas
e extravasem sem reservas suas águas. 

Mas eu sou dessas barragens
que não se entregam nem extravasam,
mesmo com a maior das enchentes. 

( Amaro mar, pág. 83, 1988)




OS PEIXES DO MEU RIO 

No reverso, a história de meus versos.
No avesso, a pura canção de gesso,
que se sustenta no azul da lenda,
no equilíbrio do fio que (entre)teço. 

Na superfície, a frauta noturna
de sustenidos ais e bemóis.
Na superfície, a fraude fria
e a neblina sobre mil lençóis. 

É no fundo d’água, nos peraus,
que moram os peixes de meu rio.
É no remanso que alguma iara
sempre se esquiva solitária. 

De repente, o susto da cilada,
um anzol recurvo - aço e isca - 
mas os meus peixes não se entregam,
apenas provam de leve, triscam. 

( Amaro mar, pág. 77, 1988)


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