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Délio Rocha


 


Narrativas violentas



12 de Maio de 2006

 



A crueldade e a literatura conhecem mil formas de encantar e inquietar. E todas estão representadas em “Contos Cruéis”, livro organizado por Rinaldo de Fernandes, com lançamento, hoje, às 19 horas, no Espaço Cultura da Adufc. A obra reúne 47 contos. São narrativas poéticas, cinematográficas, jornalísticas, fragmentárias, paródicas, confessionais, cômicas, eróticas e oníricas. “Contos Cruéis” é um livro de 47 autores, entre eles três cearenses: Adriano Espínola, Moreira Campos e Tércia Montenegro.
 

O livro mistura textos inéditos e consagrados. Reúne contistas canonizados, veteranos e novatos. São 47 contos, 47 autores. Como elemento comum a quase todas as narrativas está a violência - física ou psicológica -, experimentada na sociedade atual. Os autores lançam um olhar sobre o tema, fazendo deste livro um tratado de sociologia. Textos que expressam o comportamento que prevalece nas comunidades urbanas, especialmente nas metrópoles, aquele que acaba em algum tipo de violência.

“São 47 cenas de coação física e psicológica. Mais psicológica do que física. Mais lírica do que escatológica. Mais literária do que sociológica. São 47 exemplos do vigor da literatura brasileira”, avalia o escritor Nelson de Oliveira, que participa do livro. “Contos Cruéis” traz textos agressivos não só na temática, mas na linguagem fria, de certa forma impactante de determinados autores. Quatro ou cinco casos podem não atender à proposta de violência indicada no subtítulo, mas estão perfeitamente enquadrados na idéia contida no título da coletânea.

A maioria dos contos é inédita. “Pedi aos autores que tirassem da gaveta e do seus arquivos aquelas histórias mais agressivas, contundentes, ou que produzissem textos que se enquadrassem na proposta temática”, explica Rinaldo de Fernandes. Ele disse que adotou dois critérios básicos. Primeiro convidar nomes importantes da ficção atual, de várias regiões do país, para participar do livro, de preferência com um texto inédito. O segundo critério foi incluir alguns contos já consagrados da literatura brasileira contemporânea.

Entre os escritores consagrados representados na coletânea, estão Rubem Fonseca, que comparece com o clássico “Feliz Ano Velho”; Luiz Vilela, que vem com “A Cabeça”, considerado um dos contos mais cruéis da literatura brasileira; Lygia Fagundes Telles (“Venha ver o pôr-do-sol”); Ivan Ângelo (“A casa de vidro”); e Roberto Drummond (“A morte de D. J. em Paris”). Há outros escritores badalados, como Dalton Trevisan, com a crueldade de sempre em “Capitu sou eu”; Moacyr Scliar (“A morte do ator Rubem Brandão”); Ignácio de Loyola Brandão (“Um tiro certeiro”); e Nélida Piñon (“O Jardim das Oliveiras”).

Também valem destacar os três cearenses representados na coletânea: Adriano Espínola (“O pintor da tribo”), Moreira Campos (“Os doze parafusos”) e Tércia Montenegro (“As casas de André”). O primeiro é mais conhecido como poeta e ensaísta. É autor de “Em Trânsito: táxi / metrô” (1996), “Beira-Sol” (1997), “Fala, Favela” (1998), “O lote clandestino” (2002) e “As artes de enganar: um estudo das máscaras poéticas e biográficas de Gregório de Mattos” (2000). Natural de Fortaleza, Adriano Espínola é professor da Faculdade de Letras da UFRJ, além de apresentador e diretor do programa de entrevistas e debates literários “Letras no Ar” (Estação Carioca FM).

Moreira Campos, por sua vez, consagrou-se no conto. Entre seus livros estão “Vidas Marginais” (1949), “Portas Fechadas” (1957 - Prêmio Artur Azevedo), “As vozes do morto” (1963), “O puxador de terço” (1969), “Os doze parafusos” (1978) e “A grande mosca no copo de leite” (1985). Seu conto “As vozes do morto”, com leitura da atriz Maria Luíza Mendonça, foi apresentado no programa “Contos da Meia-Noite”, da TV Cultura, em 2004. Moreira Campos nasceu em Senador Pompeu-CE, em 1914, e morreu em Fortaleza, em 1994.

A outra representante cearense, Tércia Montenegro, lançou seu primeiro livro, “O Vendedor de Judas”, em 1998, com apenas 22 anos. Em 1999, recebeu, pela Fundação Biblioteca Nacional, a Bolsa para Escritores Brasileiros. Na época, seu livro “Linha Férrea”, que seria lançado em 2001, recebeu o primeiro lugar na categoria Contos do Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, promovido pela Revista Cult. Em 2004, oito contos deste livro receberam adaptação teatral pelo grupo Cabauêba, em dupla temporada no Teatro do Sesc e no Teatro Dragão do Mar, em Fortaleza.


SERVIÇO: Lançamento de “Contos Cruéis” (Geração Editorial, 420 páginas, 2006, R$ 48,00), livro organizado por Rinaldo de Fernandes, hoje, às 19 horas, no Espaço Cultura da Adufc (Avenida da Universidade, 2346). Informações: (85) 3251.1882.


 

 

 


 

16/05/2006