Domingos Caldas Barbosa


Vou Morrendo Devagar

Eu sei, cruel, que tu gostas, Sim gostas de me matar; Morro, e por dar-te mais gosto, Vou morrendo devagar: Eu gosto morrer por ti Tu gostas ver-me expirar; Como isto é morte de gosto, Vou morrendo devagar: Amor nos uniu em vida, Na morte nos quer juntar; Eu, para ver como morres, Vou morrendo devagar: Perder a vida é perder-te; Não tenho que me apressar; Como te perco morrendo, Vou morrendo devagar: O veneno do ciúme Já principia a lavrar; Entre pungentes suspeitas Vou morrendo devagar: Já me vai calando as veias Teu veneno de agradar; E gostando eu de morrer, Vou morrendo devagar: Quando não vejo os teus olhos, Sinto-me então expirar; Sustentado d'esperanças, Vou morrendo devagar: Os Ciúmes e as Saudades Cruel morte me vêm dar; Eu vou morrendo aos pedaços, Vou morrendo devagar: É, feliz entre as desgraças, Quem logo pode acabar; Eu, por ser mais desgraçado, Vou morrendo devagar: A morte, enfim, vem prender-me, Já lhe não posso escapar; Mas abrigado a teu Nome, Vou morrendo devagar.


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