Cruz e Sousa

Dança do Ventre
                                                     
                            
Torva, febril, torcicolosamente,
numa espiral de elétricos volteios, 
na cabeça, nos olhos e nos seios 
fluíam-lhe os venenos da serpente.  

Ah! que agonia tenebrosa e ardente! 
que convulsões, que lúbricos anseios, 
quanta volúpia e quantos bamboleios,
que brusco e horrível sensualismo quente.

O ventre, em pinchos, empinava todo 
como réptil abjecto sobre o lodo, 
espolinhando e retorcido em fúria.

Era a dança macabra e multiforme
de um verme estranho, colossal, enorme, 
do demônio sangrento da luxúria!

                                  
                                                                           

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 Página atualizada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  23  de  Julho  de  1998