Cunha Santos Filho


Cirrose Azul

São os testículos de Deus que agora arranco na marcha em que não marcho pois sou manco na mesa em que me esfumo no vinho do mal rolo-me por mim, que sou barranco choro de beber, choro e me tranco que nem o olho aceita o choro do chacal Porque quis eu dar outro murro em Cristo com toda alma danada de um Buda misto e ser punido, hoje, por não ter pais se nem sequer é minha roupa e eu nem visto quero ser homem — sou apenas quisto quero ser carne — sou só cicatriz Não tive a vez do azul quando do gozo a mim foi dada a queda, nunca o pouso e outros retesaram-me no chão assim, ó vil cantiga que eu nem ouso nesta cama de gato é que eu repouso ferreado da violenta compulsão Não irei longe. É certo, me esfarinho o séquito do demo é o eu sozinho o eu, ou 10, milhões mamando a paz — por tantas vezes destruí meu ninho sou como inseto que alagado em vinho afoga, arqueja, sofre e bebe mais Tridente, fogo, rastro de cometa o mundo onde estou é uma maleta trancada aos ais das mães e aos ais dos pais vivo de espirros — gripe de escopeta entregador de horror, eu estafeta que desde que se foi, não foi jamais Bebo meu sangue seco na tigela — e frio — tantos se juntam pra eu ser vazio tantos se aninham pra me reverter eu, que de um só, após, me fiz um trio durmo em mim mesmo e choro enquanto rio de ver meu próprio riso apodrecer .................................................................. Mas há um cão distante que poreja há uma lombriga d'ouro que me beija e alguém que ri falido de tormento há uma carne sem sal, que de sal seja que eu me mudei pra um balde de cerveja e fiz de um copo meu apartamento.

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