Costa e Silva


A Corila

Vês, Corila, aquela rosa Emulando a cor da aurora Quando, Febo a porta abrindo, Leda sai do Ganges fora? ... Que maior valor tivera, Quão mais grata fora à gente, Se natura não a armasse De um espinho tão pungente ... Sua púrpura esmaltando De seu folhame o verdor, E nos ares difundindo Seu aroma encantador, Convidaram-te a colhê-la, Mas teu dedo alabastrino Rasgado com dor penosa Verteu veio purpurino: Eis, Corila, o teu retrato, Pois se és rosa na beleza, Tens também de rosa espinhos Nos desdéns e na fereza. Ah! Muda esse gênio esquivo, Que requinta a formosura Exalar de quando em quando Um suspiro de ternura. À formosa, em cujos olhos Não arde o fogo do amor, Eu prefiro a muda estátua, Que formou destro escultor.


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