Corrêa de Araújo
Dentro do Abismo
					Morria... O abismo embaixo, esboroadas
					Fauces horríveis para o espaço abria,
					E eu suspenso no vácuo, as mãos pousadas
					Nas margens negras, já sem fé morria.
					Sei que caí mas que, ao cair, sagradas
					Mãos me ampararam na voragem fria;
					E, ao despertar, Alguém d'asas doiradas,
					Alguém que eu amo, junto a mim sorria.
					Eras tu!  Amparaste-me a fugiste:
					E eis-me de novo cheio de desditas!
					E eis-me de novo desvairado e triste!
					E clamo e gemo... que cruel contraste! 
					És tu agora que me precipitas 
					No meu abismo donde me tiraste!
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *