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Novidades da semana
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Página atualizada em 12.11.2000
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A Poesia de Haroldo de Campos
Daniel Piza
<dpiza@estado.com.br>
Preconceito Futebol Clube 



[O Estado de São Paulo,
Caderno 2,
Domingo, 12 de novembro de 2000]


 
Fernando Henrique está certo, o Brasil é um país "culturalmente integrador e socialmente injusto". Sei que ele usa "culturalmente" no sentido antropológico, de comportamento habitual. Mas, como José Bonifácio notou já em meados do século 19, essa integração é tanto mais perigosa por ser enganosa. Veja a questão do preconceito: a sociedade brasileira é das mais machistas e racistas do Ocidente. Só que essa atmosfera simbólica, de que vivemos numa "democracia racial", faz parecer que não. 
Antigamente a miscigenação era incentivada porque iria branquear a população; hoje ela é exaltada porque a teria desbranqueado. Qual o erro? O erro é colocar a questão racial como definidora. Agora, para combater o preconceito, o primeiro passo é reconhecer sua existência. O segundo é distribuir educação e justiça para todos, não apenas cédulas eleitorais. A lenta, insatisfatória evolução que tem havido é fruto da própria evolução do capitalismo democrático no País. A mudança definitiva da mentalidade envolve outros fatores. 
Uma ilustração perfeita desses fatores foi a sessão da CPI do futebol na Câmara, terça-feira passada, em que os jornalistas depuseram. A imprensa no dia seguinte se queixou da ausência de provas, como se coubesse a eles produzi-las. Mas o que Flavio Prado, José Trajano, Tostão e, sobretudo, Juca Kfouri (essa rara figura do moralizador não-moralista, irônico, desprendido) fizeram foi dar um norte à investigação, o qual se chama Confederação Brasileira de Futebol, a instituição que deveria organizar, regulamentar e fiscalizar o futebol nacional e que não o faz. Autoridades federais também deveriam ser cobradas, por permitirem a sonegação e as negociatas que permitem. O resto é holofote para a mídia, como as sabatinas de Luxemburgo e dos jogadores, que dificilmente revelarão cont(r)atos escusos. 
O que ficou claro foi o clubismo, a ação entre amigos que domina o futebol brasileiro, o nepotismo perdulário da CBF, a falta de transparência a serviço da ingerência. Não por acaso a Lei Pelé foi estripada, o contrato com a Nike foi ocultado, e a Copa João Havelange (simbolicamente intitulada) está como está. A modernização completa e honesta do futebol não serve aos coronéis do esporte, também chamados de cartolas, talvez por causa das mágicas inesperadas que são capazes de tirar do obscuro... 
Fernando Henrique deveria deixar Gilberto Freyre e Florestan Fernandes um pouco de lado e voltar a Sérgio Buarque de Holanda, que em seu Raízes do Brasil nota que "a ideologia impessoal do liberalismo" não entrou direito na cultura brasileira, em que tudo é levado para o pessoal, o familiar, o cordial, o "integrado", mesmo naquelas patotas que se dizem vanguardas. 
Aqui, a única coisa objetiva, que não tem dono, é o preconceito, que não parece ser de ninguém, mesmo sendo uma realidade onipresente. 
Doença juvenil do pop-ulismo Por falar em preconceitos, Al Gore tornou célebre em sua campanha a expressão "poluição cultural", referindo-se ao lixo massificado e àquilo que o jornal inglês Observer chamou de "neobrutalismo", o sensacionalismo carniceiro que virou moda nos circuitos "modernos". Michael Kimmelman, o bom crítico de arte do New York Times, escreveu sobre isso no domingo passado, tratando de evitar o moralismo conservador que está por trás desses discursos sobre a "degeneração" da civilização, mas indo ao ponto: 
"É melhor parar esse nonsense antes que comecemos a acreditar nele. A cultura popular está ficando mais e mais juvenil, e as artes sérias, ou o que se costumava chamar de artes sérias, freqüentemente emulam a cultura popular, de modo depressivo. Mas podemos estar desapontados com as artes sem estarmos mais rudes como sociedade. (...) Os anos 90 foram uma década de mudança, não uma década particularmente grande para as artes, mas um período de mudança. (...) Agora a fronteira entre alta e baixa cultura foi virtualmente apagada, (...) e seu valor tem apenas a ver com o nível de choque de sua mensagem confessional. Quando a arte aspira à condição geral de cultura pop (o que devemos lamentar como compromisso de uma ambição civilizada mais do que como um signo da ruína da sociedade), então a arte, como a maioria da cultura pop, não pode esperar ficar na prateleira mais do que uma canção mediana de rap." 
Achei que assim, em inglês, essas idéias soassem novas. 
Novas fronteiras Perguntei a António Damásio, o neurologista autor de O Mistério da Consciência, se ele concordava com a especulação do biólogo Stephen Jay Gould de que a atividade mental pode ter influência sobre o sistema imunológico. Gould aventou a hipótese depois de sobreviver 10 anos (agora já devem ser uns 20) ao prognóstico de seu médico, de que morreria de câncer em até um ano. Agora vem a notícia de que estudos preliminares da Universidade da Califórnia, Berkeley, mostram uma ligação entre uma área específica do córtex, no lobo frontal do cérebro, e o sistema imunológico. 
Não significa que pensamento positivo cura doenças, mas que o vigor mental é tão fundamental para a defesa do organismo quanto o corporal. Só não vá se inscrever na Academia de Letras achando que fará ginástica cerebral... 
Panorama Intelectual Brasil Enquanto isso, no Brasil, Marx continua a dominar os debates da dita "intelligentsia", e a visita do alemão Robert Kurz, desconhecido em seu país, é saudada como a passagem do profeta, que assegura que haverá paraíso socialista depois da morte certa do capitalismo global.
 
Já Haroldo de Campos publica A Máquina do Mundo Repensada, em que se compara modestamente a Dante e Drummond. Sua poesia é verbosa, eruditóide, barroquizante, obcecada com conceitos como alquimia e cosmogonia. Ou seja, tudo que o concretismo combatia... Mas, no caso, talvez fosse melhor ele ter ficado no trocadilhismo visual das priscas eras. 
A arte da crítica (1) Uma boa mostra é Expressionismo Alemão, no Museu de Arte Moderna, no Parque do Ibirapuera, isolada dos camelôs e ciclistas que o dominam. Preste atenção em Emil Nolde, tanto em telas como A Ponte como em gravuras como Jovem Casal. E, se você quer saber de onde veio a pintura de Anita Malfatti, não deixe de conferir os retratos de Alexej von Jawlensky. 
A arte da crítica (2) Entre o capachismo diante das superproduções hollywoodianas e a maratona pela mostra de filmes árabes e chineses, opte por E aí, Meu Irmão, Cadê Você?, o mais recente filme dos irmãos Coen. É inventivo sem ser pretensioso, sardônico sem ser maniqueísta, inteligente sem ser chato. Que mais você quer? Que outros cineastas seriam capazes de fazer um filme sobre três fugitivos que atravessam o sul-americano (o Saara dos bobos, na frase de Mencken), vivendo episódios inspirados na Odisséia, e com esse material falar sobre comunicação de massa, sobre seu poder sedutor e ao mesmo tempo o uso político do marketing? Como Woody Allen, os Coen são mais inteligentes que seus críticos. 
Canção que morre no ar Dois discos com arranjos bem cuidados, criativos, coisa rara no País. Gil e Milton, porém, tem repertório sofrível, com exceção da versão belíssima de Dora, de Caymmi. Gal Canta Tom Jobim é um dos maiores momentos da cantora. 
Sempre preferi a Gal de Sua Estupidez à Gal de Festa do Interior. Ei-la, sutil e vibrante, na Derradeira Primavera. 
Internéticas Num país com 30 milhões de domicílios com TV, você acredita mesmo que haja 14 milhões de internautas?
 Por que não me ufano É claro que iam escolher Eu Tu Eles para concorrer à indicação para o Oscar pelo Brasil. É uma mistura de Dona Flor e Central do Brasil, uma história picaresca que se passa em meio à miséria nordestina. "For export", certamente. Auto da Compadecida não entraria na cabeça dos gringos...

 

 

          Aforismos sem juízo Não há crítica mais destrutiva que a posteridade.

Página inicial do contencioso
Página de Daniel Piza
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