Christiano Nunes Fernandes

Remetido por Luiz Nogueira Barros - lnogueira@sunnet.com.br

Cinco sonetos para um passarinho

I SEM desvelo nenhum pelo ecológico - antes pensando tudo por amor - o pássaro deixou-se, por ilógico, aprisionar-se todo, até a cor dourada da plumagem, mais o verde dos seus olhos e mais o que ele era: pássaro alado de desejo e sede. Depois, acomodado na gaiola, imaginou-se cravos e viola e pôs-se a fiar o tempo em seus teares... Até que em certa tarde morna viu-se pairando além, e livre pressentiu-se se reofertando à festa dos pomares. ............................................................ II O MAR, o mar imenso era um brinquedo e o céu distante era um azul deserto. Seus olhos eram como longos dedos trazendo as longitudes para perto das ânsias de suas asas que, em segredo, o vôo libertavam para um certo espaço já perdido e desde cedo roubado de seus sonhos mal despertos. Cativo, agora, o pássaro modula uma canção plangente que se ondula nas harpas da manhã e, então, se evola em árias e sonatas e se perde pelo deserto azul e pelo verde mar, alheios ao pássaro e à gaiola. III POSTO que do mar não seja e seja ave de pomar pelo mar sempre ela adeja ela é louca pelo mar. Pelas naves da manhã ela faz sua viagem enquanto a ardente romã do sol lhe doura a plumagem. Viaja mesmo na areia... E quando faz maré cheia, há ventos fortes, marola, ela que é ave campestre com destino terrestre sonha com o mar na gaiola. ..................................................................... IV DE DOURADO fez-se azul naquela manhã, o pássaro. Ou foram ventos do sul que de repente perpassam pelas paisagens que habita, ou foi uma certa aragem que em certas horas transita e muda a cor da plumagem. E em frio azul transmudado pôs azul no seu trinado e o mundo inteiro azulesce... revestindo a corda dourada nos clarins da madrugada. ...................................... V SENTIR meus dedos entre as suas penas, tatear meus olhos pelos seus segredos é esse o jogo a que me entrego, apenas o pássaro diviso em em seus degredos aéreos, no altiplano de concreto, em cujo frio chão nada germina além de sombras e seu vulto incerto que se divisa de uma esquiva esquina. Onde no chão os grirassóis florescem. Nos braços da manhã ele amanhece adeja leve e nada lhe sofreia o vôo dourado em direção do mar. E redivivo deixa-se pousar, se entrega ao sol e se desfaz na areia.


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